quarta-feira, 3 de março de 2010

"A canção pra lhe trazer pra casa"

Ao som de "At The Hop" do Devendra Banhart





O ar parece vazio
Você põe café numa jarra
Nós ouvimos os pássaros berrando logo ali
Têm flores de lavanda na nossa janela, logo de manhã cedo, com aquele vento vindo do norte, a casa fica muito perfumada, então eu olho você, quebradiça e resistente ao mesmo tempo, não sei o que dizer, mas é isso aí mesmo...
O sol nervoso entra de teimoso mesmo com as cortinas brancas esticadas.

É possível sentir teu calor
Esse calor que emana quando deito minha cabeça ou minha mão sobre o teu seio; eu te vejo relaxar, segura, porque sou eu quem está fazendo isso; porque o teu corpo, teus sentimentos, tudo que é teu é meu; são as minhas mãos te tocando, te trazendo a segurança que em nenhum lugar existe.

O céu está azul, límpido
Poucas nuvens, mas, mesmo assim no fim da tarde ele fica nublado
Você me serve torradas e me beija como se fosse a primeira vez que estivesse beijando
Como naquela tarde em que de saliente, deitado em teu colo, estiquei meu pescoço mesmo sabendo de um possível tapa que iria levar (mas não levei) e suavemente toquei teus lábios.

Fomos para o chuveiro juntos, como em todas as manhãs, tomamos banho juntos assim que acordamos e antes de dormir; somos calorentos, somos quentes, nervosos, indiferentes a nós mesmos e com o mundo ao derredor.

A maciez da tua mão é a mesma
Tua pele não enruga apenas teu lado mimado teima em não se dissipar.

Os pássaros continuam berrando
Nossos filhos terão olhos verdes, porque é a minha cor preferida; cabelos cacheados porque meninas de cabelos cacheados me alucinam, além de serem enigmáticas e extremamente atraentes; se nossos filhos forem meninas, elas não serão quaisquer desde já por essas prerrogativas.

Saímos do banho e tu me beijas como nunca havia beijado
No entanto, eu sinto como se fosse um beijo de “eu gosto, mas, não como deveria e como você merece”
E eu lá mereço algo?
Sou um cão, um diacho cuspido no chão, um doido varrido que respira aqui e ali uma esperança bem-vinda
Não entendo o porquê da despedida repentina
[...]
Meus dias não foram mais os mesmos desde então
Na verdade têm sido os melhores
Um ceticismo resolveu fazer morada e a descrença no próximo ou algo que seja forte demais se tornou um fato convicto.

Hoje te olho aqui e ali
Tu mudaste tanto
Na verdade apenas fez o que eu fiz, colocou pra fora o que sempre foste
Deixo esses sonhos todos só para mim
E digo que sim, sou feliz.

4 comentários:

Impulsiva disse...

A história estava tão empolgante e de repente...chegou o adeus. É, porque assim é a vida, nem sempre como gostaríamos que fosse.
Mas as lembranças ficam e a dor causada pela perda ensina a crescer, a encontrar a felicidade em nós mesmos. Você encontrou...

Beijos,
Kenia.

Anônimo disse...

Pior que tudo acaba mesmo... Que droga. :/

Bom texto! Até.

Dani Pedroza disse...

"A nostalgia parece que está me infernizando de uns tempos pra cá."

Você escreveu isso há um tempo. Nos dois posts seguintes falou sobre alguém que mudou, que se foi, que partiu. Mesmo que esse alguém não exista, não fisicamente, a sensação existe. E sabe de uma coisa? Algumas sensações são mais "reais" que certas pessoas.

Ontem, escrevi num outro blog que, às vezes, a gente sente que tudo mudou, acabou, mas ainda está lá, por algum motivo, mais escondido, mas ainda no mesmo lugar. Aí cabe a nós provocar, desenterrar ou deixar como está. No fim das contas, tudo é sempre uma questão de escolha, não? Bjs.

Abiodun Akinwole disse...

É, naq vida se ganha,perde e ganha de novo, toda hora. ser feliz talvez seja isso, se encontrar e se perder eventualmente.


abração!