sexta-feira, 12 de março de 2010

Deixa que o mar me leva

Meu corpo ta moído
Minha mente ta fraca
Minha carne nem treme mais
Meus olhos pesam e ao mesmo tempo sentem como se tivessem dedões empurrando-os para dentro do corpo
Minhas panturrilhas latejam
Tenho câimbras sempre todas as manhãs antes de levantar
O espírito ta ziguezagueando aqui e ali, pensando, omitindo e tendo refletir o que o próprio espelho não quer mais
“Eu já fingi ser muito melhor... Hoje eu aprendi a ser pior, mas sem mentira”.

Se existe um olhar aqui e ali
Não seria exatamente o melhor e o mais oportuno olhar, tampouco qual gostaria que fosse
Dá pra apalpar meus calos
Dá pra sentir a ponta dos meus dedos cortados e algumas unhas encravadas por conta dos repetitivos movimentos nas teclas do teclado ou caneta
O suor desce pela testa, nesse vai e vêm frenéticos de carros todos os dias
Em assuntos que não são assuntos
Em vontades contidas que não posso compartilhar, nem dividir, muito menos demonstrar.
É como parar num sinal de trânsito e observar as pessoas andando para lá e para cá
São outros pequenos mundinhos também indo e vindo de/para algum lugar
São outros pequenos mundinhos que sentem e adormecem tanto quanto eu, que esfriam, calculam, menosprezam ou se alegram assim como eu também.

Meu peito dói às vezes
Sinto como se o órgão pulsante entre um pulmão e outro fosse abrir o tórax e sair
O espírito fica inquieto nesses momentos
É quando se torna possível sentir aquele vento nem frio nem quente que só um fim de tarde no meio de um engarrafamento pode proporcionar
Olhar aquele sol bem amarelado pra depois pôr os óculos escuros, levanta o vidro do carro ou correr para uma sombra
Nessas horas passa um filme na cabeça, do que foi feito, do que pretende ser feito; pessoas adoram se gabar do quanto estão cansadas, estressadas e lisas.

Eu mesmo prefiro mergulhar no mar, com roupa e tudo mesmo, sarar o que não me adoece, ter como antibiótico o que não me faz prostrar numa cama.

A vida se transforma num diário sem pé nem cabeça, muitos querem viver desesperadamente e acabam nem sugando um pequeno filete de oxigênio
Outros querem tanto sentir que acabam se esmorecendo e esfriando
“Só de viver no seu mar, de merecer seu olhar, seu beijo todo dia e as noites cada vez mais limpas”
A vontade que dá é fechar os olhos, abrir a boca, sentir o vento frio e estender os braços
Sentir-se um morto e ao mesmo tempo abrir os olhos e ver que toda essa intensidade é só minha.

Afirmando sempre o que diz o slogan “Vamos viver todo individualismo possível!”
E perceber: Eu realmente estou cada vez mais sozinho
Aqui e ali quem sabe, contente e feliz comigo mesmo, afinal, são coisas diferentes que somente quem sente pode saber
Parte dessas nem chega a ser compreendida ou compartilhada
Desista minha querida de tentar entrar no meu mundo
Não tente entender o que não é para se entender, apenas deixe que role e viva o quê eu não quero viver pois só isso é por demais prazeroso, reconfortante.

Um comentário:

Impulsiva disse...

Sabe, nos meus momentos de conflito, inquietação, me sinto mais ou menos assim...são momentos oscilantes de confusão, desespero, mas também de felicidade, algo mesmo muito individual, um grande rebuliço interno.
Aí escrevo...saio, choro, faço coisas no meio da rotina como andar com os pés na areia pra sentir o toque das ondas e o vento no rosto.
Teu texto lembrou muito um que escrevi há algumas semanas chamado "Tudo muito desconexo", e de certa forma fico feliz em saber que a minha mente e o meu espírito não são os únicos extremamente complexos e confusos, rsrs.

Beijos,
Kenia.