quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Decalque

Tenho fixação por manias
Mania de descer sempre pelo lado direito da porta trazeira do ônibus
Mania de apoiar o corpo em um só pé com o outro pé sobre esse pé
Mania de morder o lábio, que de tanto morder já tem a marca dos meus dentes
Mania de escrever qualquer coisa que me vier à mente...
... com sentido ou não, escrever vai além de uma simples necessidade em “comunicar”
Mania de observar os caninos e tórax de quem conversa comigo
Mania de tentar guardar o timbre da voz...
... alguns preferem guardar cheiros, eu guardo timbres de voz
E daí vem também a necessidade em guardar gestos, olhares, e também manias.
Gosto de ver as rugas naturais que se formam nos cantos da boca quando alguém sorri
Gosto de ver o formato de “M” na nuca das mulheres quando elas usam rabo de cavalo no alto da cabeça
Gosto de apertar o braço, a parte do tríceps, porque é como se pudesse sentir toda a resistência da pessoa
... até onde ela pode ir, aguentar mordidas e puxões
... até onde pode ir o pseudo, ou não, desejo em se expor e querer expor
Gosto de seios em formato de gota, nem grandes nem pequenos, apenas gotas
... alvéolos claros, bicos que eu possa mordiscar
Gosto de barriguinhas, nem magras nem gordas, gosto de morder, arranhar...
Tenho medo de um dia enquanto estiver tendo um dia normal, tudo sumir
Tenho medo de ousar um pouco mais, mesmo sabendo que ousar é o que mais amo
Tenho medo de me expor, sendo que me expor é o que constantemente faço
Tenho medo de partilhar, mas partilhar é também o que mais desejo e sempre desejei
Tenho medo de me doar, prefiro me ver como uma autarquia independente
... independente totalmente atento ao primeiro sinal de interesse alheio
... obviamente sendo discreto, tento manter sereno o peito, sem grandes oscilações na respiração e mãos nervosas.
Anseio e administro meus sonhos, tento não fazê-los irem além do provável
Tento não militar pelo romantismo, mesmo que todo desejo parta de uma mera ilusão
O medo nada mais é do que a liberdade sendo vigiada e sitiada”, pensei e exclamei
Tenho medo de dizer certas coisas, certas coisas que assim causam ansiedade
Ansiedade que produz medo
Medo que produz textos e mais textos
E os textos são a forma que encontrei de dizer determinadas coisas sem objetivo, mas com objetivo em alcançar alguém
Quem? Não sei bem dizer, o valor transmuta de pessoa para pessoa, não sei dizer se a atual merece tamanha dedicação silenciosa e talvez não expressiva.
Ainda pensei em fugir, mas logo percebi. De nada ia adiantar”, escutei num trecho duma música do tal Lucap [...] “Qualquer hora, você tão nua
No fim de tudo, esse tudo não passou de um simples e apenas momento impar e gigantescamente rápido em observar para depois fingir não ter observado e quem sabe ali demonstrar todo o querer possível
Cada cena como um quadro, cada quadro como uma história que se interliga sendo a mesma história, e, cada história só cabe entre eu e outra pessoa que entenda as entrelinhas toscas minhas.

2 comentários:

Eliza Barroso disse...

Primeiro li tentando te identificar no texto. Depois li me identificando no mesmo.
Tenho mania desse blog, rs.

Samanta disse...

"Quando for a hora agora, arda na palavra nada."

'breathless'com esse teu post.