terça-feira, 25 de outubro de 2011

Intimismo latente

Já reparou como os dias estão mais rápidos? Já reparou como as sensações antes banais agora são e estão mais intensas, até mesmo as que atualmente são banais? Já reparou como o absurdo se torna normal e vice-versa? Tem algo no ar que parece pesar uma tonelada, e enquanto isso as pessoas continuam a sorrir, mas se instigadas todas dirão que lá no âmago tem uma espécie de relógio suplicando para ser zerado. Acordar parece um martírio, um desânimo.

Já reparou como os bancos das congregações estão ficando vazios de verdadeiros crentes (não aqueles pedintes que ludibriados por mercenários que consideram Deus como um gênio da lâmpada mágica) enquanto que os bares às 7h da matina já estão repletos? Já reparou como os valores estão cada vez mais invertidos, e não se concentre apenas nos moralismos não contornáveis das discussões acerca da homossexualidade ou guerra no oriente médio; já reparou? Já percebeu como existe uma espécie de fio puxando uma mão ali, uma perna aqui, sacodindo uma cabeça acolá, como o vazio interno cresce exponencialmente e a velocidade da informação que só cresce para servir de distorção, transformando-se no prenúncio do fim dos tempos?

Dia desses fui visitar uma amiga. Cheguei atrasado devido o bendito congestionamento no trânsito da cidade onde moro. Uma “viagem” que dura em média 30min, me custou longas 2h! Enfim, fui visitar a minha amiga e é engraçado como o tempo para em determinadas situações e pessoas. Não há nada de especial em rever amigos, se não aqueles que se tem um apreço descomunal sem a existência da necessidade de estar perto para estar junto. Visitei-a e constatei todas as indagações antes apresentadas. Parece que um filete de luz passou em frente meus olhos e aquele tal “estalo” ecoou nos meus tímpanos de maneira violenta. O acontecido já tem quase uma semana, mas desde esse dia, algo me incomoda quanto a um começo, meio e fim.

Conversávamos as trivialidades nada incríveis de pseudo cults que insistem em alimentar a desgraça alheia enquanto compartilham mazelas... não, nada disso, nunca fizemos isso... Nunca mesmo! Mas, um conflito (no bom sentido) no bate papo me chamou a atenção: a rapidez com que as relações humanas se deterioram nos dias de hoje, o caminho que cada um resolve trilhar pra si, o respeito mútuo, a tolerância religiosa (e a falta desta também), a pluralidade que consiste na ponta da beleza da heterogeneidade. Eu gosto do que é diferente de mim, da possibilidade de entrar em debates cujos temas eu não domino e me fazem ficar “boiando”. Gosto de pensar que a minha mente é uma esponja, e que a minha estupidez se faz sábia quando absorvo, discernindo e abstraindo o que cada um tem de melhor a me oferecer. Somos todos parasitas e não negue tal coisa, vivemos do interesse seja ele material espiritual, sexual... não importa. Até ele para poder existir depende de uma reciprocidade.

fui do grupo dos convencionais, embora eu seja um antiquado em quase tudo na minha vida, o problema são os detalhes... as pessoas insistem em si apegar a eles e não reparam no todo... perdem tanto, tanto do que gratuitamente está pronto para ser dado sem pestanejo. Lendo e relendo minhas várias anotações, donde delas brotam as incógnitas que escrevo, reparei em algo que muito me chamou atenção. Não se espante eu gosto de estudar a Bíblia e foi nela que encontrei o que me pareceu incrível e inquestionável:

“Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos.” - Romanos 6:12 [...] “Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.” - Efésios 2:3 [...] “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” - Gálatas 5:24-25 [...] “Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus.” - 2 Coríntios 5:20

Lendo e relendo, tentando adequar aos meus questionamentos, ao meu bate papo com minha amiga, ao todo que sapateia na minha cabeça, percebi que a lugar algum vou chegar se não mais e mais questionamentos. Aprendi que quanto mais o tempo passa, mais ignorantes nos tornamos, nos condicionamos a sermos mais brandos no que diz respeito a aceitar o errado e refutar o certo. Ficamos constrangidos em erguer os punhos, bater na mesa, e dizer um “Basta!”. Achamos tolice dizer “Desculpe, não bebo mais porque meu corpo agora é Templo do Espírito Santo de Deus”, ou quem sabe ficar calado para as piadas de outrem que mais parecem pedras, tudo porque nos enquadram no grupo daqueles que dão péssimo exemplo de. Nos entristecemos com aqueles se afastam e riem por determinadas situações e escolhas, isso deveria ser motivo de alegria pois o que estava mascarado veio à tona.

Não sei quem é mais hipócrita: nós que desfrutamos de uma nova vida, porém não assimilada totalmente e tampouco compartilhada aos que necessitam, ou a vida que outrora tínhamos e era ostentada e maravilhada pela grande massa morta no seu juízo e putrefata no corpo. Fala-se tanto no bem comum, no repartir do pão, na aceitação, na igualdade, na reciprocidade, porém não se vê um braço estendido para compreender se não for como forma de justificar a crítica. Eu não sei quem é melhor, se quem tem a vida e não a distribui, ou se quem está morto e continua matando outros motivado pelas vaidades em geral.

Esses pensamentos vem e vão, a divagação toma conta e o enredo bate o ponto... A cabeça começa a doer pelas miudezas de um tempo vil de situações que não assustam, mas se transformam em showbiz da repugnância... das reivindicações virtuais tomando espaço, da vida dúbia tida aqui e ali, no pensamento indiscreto e prostituo que aprisiona uma imensidão de pessoas. Tem momentos que desejo realmente o fim não só para que os pensamentos cessem, mas para que o óbvio se revele de maneira tão escancarada. Tem gente que precisa de um murro para poder saber que está sentindo dor e não outra coisa contrária!

Enquanto isso, eu continuo a me perguntar: “Até quando? Até quando? Até quando? ...”

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