terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ano novo

La vida es más compleja de lo que parece” ♪♫

 

 

O quarto é em sua maioria das vezes o pior lugar para se combater o bom combate. Noite adentro ou entretido no silêncio da alma, do cosmos, do mundo, das coisas; é no quarto que a verdadeira natureza aflora.

Vai-se embora a paz, o sossego. Deus parece distante. É uma angústia sem fim, as orações parecem não passar no teto.

É aí que vejo Deus, o mesmo Deus que é Pai e também SENHOR justo e soberano, se mostrar pouco interessado nos “esperneios” de um filho que insiste em querer acreditar que pode ser mimado. Bendito filho pródigo.

No quarto o menor incômodo ganha proporções cataclísmicas, espinhos que mais parecem facas, dores de cabeça intragáveis e barulhos ensurdecedores que só ecoam em nossas mentes, enquanto que no mundo alheio os pássaros continuam cantando.

O quarto, também, é como estar diante de quem se ama. Cada pedaço não é oculto, nem passa por despercebido. Cada cicatriz é tocada, cada mancha roxa é afagada, cada suspirar desregulado é acalmado.

O quarto é intimidade e muitas das vezes para se permitir uma intimidade individualista e mesquinha, de sonhos tão constrangedores que talvez ninguém o possa penetrá-los. Quarto é lugar de solidão consigo e com Deus. Quarto também é local de imaturidade. Quarto é púlpito, cadeia, carteira escolar, folha de papel.

O quarto é inocência, pureza. Quarto também é fetiche, lugar de entrega, de nudez, de quebrantamento, de prostração. Sonhos realizados, de aconchego, de repouso, descanso, amor.

O quarto é também insônia, é minha raiva e minha injúria. Meu labor, meu esconderijo, meu prazer e meu lazer, é parque de diversões da minha solidão, do meu pranto, adubo para os meus questionamentos, meus divãs e doenças.

O quarto sou eu.

E o que espero para o próximo ano? Que eu tenha mais embates, mais incômodos, mais lutas, mais autoconhecimento. Não me importo com o dissabor, a gente vai se acostumando às vezes de que não dá pra ser feliz o tempo todo, nem triste demais também, pois tudo é uma grande perda de tempo.

Eu espero ser mais próximo de um quarto inquieto e desajustado, de portas esperando serem trocadas, de teias de aranha serem retiradas, de um chão a ser encerado, de banheiros limpos com espelhos tão limpos ao ponto de poder ver a alma.

Eu espero ter janelas largas para ter a sensação de queda e de refrigério. Eu espero mais amores, mais aconchego, mais intimidade, mais noites perdidas e um pouco de angústia pra não ter que me enganar com um mundo fantástico que não existe.

Eu espero ser mais eu, com toda a intensidade que me for permitida.

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