quarta-feira, 29 de outubro de 2008

“Quanto Vale ou é Por Quilo?”

Tentando realmente fugir do senso comum de que “a sociedade não muda, apenas a forma com que o crime acontece é que se aperfeiçoa e veste roupas novas” é que foi feito o filme “Quanto Vale ou é Por Quilo?” dirigido por Sérgio Bianchi, 2005. Abordando uma linguagem bem clara e às vezes extremamente direta criticando fortemente a visão solidária que existe em nossa sociedade e como ela se tornou objeto do nosso amado capitalismo. Fazendo ressalva cronológica, valendo-se de arquivos do tempo escravista brasileiro, que se formos analisar bem, não difere tanto aos nossos dias. Quando afirma Lázaro Ramos “O que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia”; claro que naquele tempo a democracia nem sequer era cogitada, mas a liberdade do “ser” era afogada pela liberdade do “ter”, pelo poder de compra de escravos, manter um império ao redor e formas diversas de ludibriar a lei em proveito próprio.

Fazendo uma rápida analogia à Paz segundo a concepção de Marsílio de Pádua, que se contrapõe completamente às idéias de outros pensadores e religiosos da época, como Santo Tomás, Santo Agostinho; este diz que a paz deve basear-se em concepções puramente naturais, com total ausência de conflito restrita apenas ao interior da sociedade civil. Discordando totalmente a idéia de que a solidariedade deve estar ligada à divindade de Deus e sim apenas restrita a nós seres humanos onde é pensada de uma forma nova, na dependência de um interesse recíproco de natureza biológica e econômica que, longe de legar os seres humanos ao destino ultra-terreno, se funde com a idéia de civilização (cidade) e constitui uma relação fecunda com a lei positiva da qual é, ao mesmo tempo, origem e conseqüência.

O filme adota uma forma peculiar de enredo, dividindo-se de duas maneiras: a primeira acontece quando Arminda, que trabalha num projeto social em uma favela, descobre que os computadores doados por um deputado estão superfaturados; a segunda: se dá através de Candinho um jovem que vive mudando de emprego, e que pra manter a esposa grávida e a sogra, uma senhora frustrada com a vida por não ter condições em poder abrir o seu próprio projeto social (sem visar lucros, mas o prazer em ajudar o próximo), assume o papel de um matador de aluguel e que assim aos poucos começa a pôr dinheiro dentro de casa. Fazendo os caprichos da esposa que ansiava em ser como as famosas das revistas que lia e tendo poder de compra para saciar seus próprios desejos quanto jovem da classe média e também alimentar e dar um “futuro” para o seu filho.

Os caminhos de Arminda e Candinho se cruzam quando ele recebe a proposta do assessor do deputado que havia doado os computadores superfaturados, de matá-la. Neste momento o filme acaba, porém Bianchi deixa a disposição do público decidir qual final faz mais sentido, se é Arminda grávida e morta com um tiro no coração ou Arminda grávida e propondo para Candinho uma cooperativa de seqüestro de políticos corruptos, fazendo justiça com as próprias mãos já que aqueles que nós mesmos elegemos para o nosso bem comum não fazem nada, visando o seu próprio bem-estar e orgulho.

Em Marsílio de Pádua, a perspectiva aristotélica é levada ao "pé da letra", se bem que transportada para a realidade sócio política do início do século XIV. A civitas (cidades) para ele é concebida assim como uma comunidade de seres humanos, universal e naturalmente ordenada, que se constrói pela razão tendo em vista o "bem viver", ou seja, o viver plenamente sem qual o homem não pode ser homem. Desta forma ela é um todo perfeitamente natural: tem como causa a tendência natural do homem à sociabilidade, como origem a sua vontade racional e como objetivo a felicidade e o bem-estar da comunidade.

Sérgio Bianchi retrata muito bem essas concepções, mesmo que de forma catastrófica e bruta, mostrando o interesse por baixo de tanta “solidariedade”, das ONGS juntamente com dados comprovando que o dinheiro investido nelas não é o suficiente. Apesar de este ter poder de sustentar um bom número de crianças de rua em todo o Brasil, dando a elas casa, roupa, comida, estudo em escolas particulares e condições de entrar numa faculdade e se formar.

“Quanto Vale ou é Por Quilo?” coloca o ser humano moderno na condição de mercadoria, como nos arquivos do Brasil escravista, incorporados ao longa metragem. Tirando a liberdade de decidir um futuro, um padrão, uma identidade, uma cultura do ser humano, tornando-o quem sabe por opção da ganância e da superficialidade em ter, simplesmente por querer ter, objeto de consumo, matando e passando por cima de outros semelhantes para poder chegar à sua Shangri-la (criação literária de 1925 do inglês James Hilton, descrita como um lugar paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências. Shangri-la será sentida pelos visitantes ou como a promessa de um mundo novo possível, no qual alguns escolhem morar, ou como um lugar assustador e opressivo, do qual outros resolvem fugir.).

Um comentário:

Víctor Hugo disse...

simplismente FODA!!
continue nessa muleq, tu ta em ksa escrevendo, teu futuro ta ai meu irmão! ´fé que nos xega la!!
abraço!