sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Hedonismo vazio

Seco e escasso
Se disser que ando seco
Se disser que ando vagando feito zumbi
Posso parecer um mal agradecido.

Só sei que é vazio e sem paredes
Sem teto, nem entradas ou saídas
Sem piso nem filetes de luz
Só eu e minha sala branca
Mente branca
Papel esperando ser escrito.

Parece que o re-start surtou
Só o back-up da as cartas
Ando fazendo careta pra qualquer coisa
Ando deixando de ser careta
E o que é ser careta?
Por que isso é tão cômico e ridículo?
É só mais uma denominação
Como as outras tantas? Pouco importa...

E o coitado do amor
Esse mesmo pede folga
Parece mais uma coalhada, dessas bem azedas
Diante de tanta modinha
E esse tal coitado amor, o que ele tem a dizer?

Tem tanta coisa em obscuro
Tem tanta coisa escondida
E eu me sinto uma dessas crianças curiosas bisbilhotando coisa alheia
Pareço não, sou
E sempre vou ser
Que mal tem afirmar isso?
E porque não ser?
E porque forçar-se a ser aquilo que o tempo não me permite?
E porque afirmar tal coisa gera mais críticas ainda como se eu estivesse tentando ser além daquilo que o tempo me permite?
É ou não é cômico ao ponto de dizer: Porra! Mas eu não disse nada!

[...]

Sinto como se uma espécie de poder saísse por meus dedos
Não no sentido de controle, mas no de perda
Vejo em sonho, eu de pé, desfalecendo em câmera lenta
Sorrindo e mostrando o dedo médio como resposta.

Durmo nesses céus escuros
Como mares suspensos
Imagino-me neles nadando
Como se o meu desejo independesse do seu
E toda a minha dispensa pelos direitos humanos fosse compreendida.

Sim, a minha indiferença é a melhor maneira de se proteger contra o acaso
Contra o peito
Contra o seio
Contra alma
Contra as injurias do corpo
Contra a falta de saciar o que faz arrepiar minha espinha.

Sabe amor, tu estás bem ali
Paradinha num canto esperando eu tomar uma decência
Comportamentos que valham à pena
Mas são tantos os amores, porque só a ti não me convém chegar?
Acredito estar no caminho certo
Mas, como o próprio Russo disse
Sim aquele barbudo da tal Legião... Boa banda
“Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio”.
...
“E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi”.

As cores são mornas
Poucas listras e calças mais justas
Ainda desejo tua bunda arrebitada me encarando em posição de “4”
Ainda desejo teus olhos a me encararem de lado meio entreabertos e o suor escorrendo pela costa se dividindo pelos quadris
Ainda posso tentar voltar a dizer aquela frase mágica
Não em palavras verbais
Quem sabe cantadas ou através dos meus dedos e gestos de simplicidade perante o presente que a mim foi concedido pelo bondoso e misericordioso Deus.
Você? Sim faça-me rir.

Ando vazio e queria me tornar um espaço branco com algum rabisco
Aperto o re-start e espero que a fita rebobine...
... Reviver o que eu tento ajeitar.

4 comentários:

Marcelo Mayer disse...

melhor começar de novo, de outra maneira do que ajeitar oq reviveu

muito bom!

bjs!

Katrina disse...

Uau, é uma bela bofetada.

Mas deixem que escrevam você

Palatus disse...

Gostei disso particularmente sarcástico "As cores são mornas
Poucas listras e calças mais justas"...
Parabéns!

Obrigado pela visita lá no Palatus!

Adriana Gehlen disse...

amor e pecado.
pecado bobo.
mesma coisa.
é, gostamos.