terça-feira, 20 de outubro de 2009

Simulacro

Ao som de “I Know We Could Be So Happy Baby (If We Wanted to Be)”, “Vancouver”, “Jewel Box” e “Eternal Life” do Jeff Buckley




Já comentei há um bom tempo sobre uma teoria existencialista que possuo.

Ultimamente essas idéias têm vindo com uma força maior, não que eu esteja questionando a minha existência ou a de uma pedra, ou muito menos vãs filosofias. Sou apenas um cara de 21 anos que tenta pensar um pouco. Na verdade, tenho pensando mais que “um pouco” a ponto de me perturbar, mas, ao mesmo tempo sem causar ansiedade nem coisa do tipo. Muito menos remorso, nem fadiga, nem mesmice, nem nada... Apenas uma forte necessidade de inexistir, pois parece que isso tudo aqui é um grande fake.

Pois bem, nessa minha teoria eu falava em como tudo é muito grande se comparado ao que chamamos de vida, de valores, de crenças ou não crenças. Sei lá, ando muito farto de muita coisa, de muitos livros, de muitos filmes, de muitas vertentes, de muita gente, de quase tudo se não tudo. Não quero parecer aqui uma dessas pessoas metidas a especiais ou exclusivistas, muito menos críticas sem terem o que criticarem, sem sentir ou viver que deveriam sentir e viver. Na verdade acho que esgotei muita coisa nesses meus 21 anos, quase 22... Sem dramas.

Pensei em como tudo me parece mais uma bola, dessas pequenas e transparentes, imaginando aqui a vastidão dessa bola, da imensidão do universo e nós como um pequeno pontinho menor que uma merda dum grão de areia. Eu me pergunto o que é esta porra diante de tanta coisa que fazemos e sustentamos. Sei lá, longe de mim estar apático, mas parece que tentar pensar demais está me doendo à mente e o corpo, cada vez mais me trancafio e fico mudo. Quem antes era conversador está ficando mudo, quem antes era sociável agora prefere ficar num canto lendo algo ou escrevendo, fazendo rabiscos na parede, olhando pro céu escuro deitado na carroceria de uma Courrier enquanto uma louca cortava o trânsito em alta velocidade gritando pela janela, fazendo sinal de luz e buzinando freneticamente (noite em que Thamia me deu carona, melhor noite, vale ressaltar).

Imagino os meus problemas, as minhas alegrias, as minhas injurias, as minhas ansiedades, meus planos, minhas necessidades, minhas abstinências, hedonismos, vícios, pecados, santidades, adorações, súplicas ou qualquer coisa que faça doer e gemer meu peito... Isso quando não fico no pior dos estados, apaixonado, odeio ficar assim. Imagino a vastidão do universo e dizem que ele é finito, imagino que dentro desse fim paralelamente existem outros tantos universos finitos, não dispenso a existência de uma Santíssima Trindade, pois se algo tão complexo foge a minha especulação juvenil, que dirá de alguém estudioso, idoso e caquético com jalecos brancos ou verdes. Por essas e outras engulo minha ignorância até o dia em que esse meu corpo resolver morrer.

Fuck you, fuck me, fuck everybody, fuck all!

Vejo tudo em branco e preto, com uma trilha sonora por trás dessas bem sensuais e suaves, dessas que você só deseja algo em que possa relaxar nada muito excitante, mas também nada muito fora do tesão... Tem que existir um equilíbrio. Talvez por isso mulher nenhuma se desfrute por muito tempo comigo, dizem que sou intenso demais, okay faz-me rir... Sei lá, acho graça de tanta coisa, que dirá de uma teoria concebida enquanto estava deitado na areia molhada da praia à noite. Fiquei lá por horas e notando como o que acontece comigo e com você é tudo uma grande repetição, é tudo uma grande imitação e reciclagem de valores, pensamentos, vivências, experiências. O amor sempre vai ser o mesmo, a dor da separação sempre vai ser a mesma, perder um emprego sempre será frustrante, nascer e morrer sempre serão um trauma, e pensar ter encontrado a mulher da sua vida (ou homem para aqueles que curtirem o lance)... O que difere isso tudo é a intensidade e maneira em como se desenrolam as coisas.

Como num jazz ou blues em que você precisa ter desenvoltura, como no rock’n’roll em que você só precisa externar seus demônios e sentimentos carnais, como num verso feito por um poeta qualquer que só quer parar de se sentir só... Tudo é um vídeo em branco e preto pra mim. Teorias vão e vêm, valores nascem e morrem, artistas brilhantes, melancólicos e geniais como Jeff Buckley sempre existirão. Por exemplo, o Thom Yorke que conseguiu o feito de se achegar ao cara, mas Buckley é Buckley.

[...]

China diria mais:
"Enquanto tudo gira ao meu redor
Eu permaneço vendo a cor que me convém
...
Cansei de ter razão demais
Cansei de ser um perdedor"

Um comentário:

Marcelo Mayer disse...

Thom Yorke era porteiro de hospício e assumiu ter influencia de Buckley. ou seja, sua existencia está num cigarro, numa taça de vinho e no Buckley