sexta-feira, 26 de março de 2010

O maior dos hedonismos a nós não pertence

Amiga minha, broto que cativou espontaneamente um pedaço meu, o que tenho para ti aqui neste texto é algo que já a algum tempo venho mastigando. Sem querer fazer parte de dramas e aderir sensacionalismos, vou direto ao assunto dentro do que tentarei esboçar. Desde já, é para você e por você, cada linha e palavra. Paz!

[...]

Certa vez te disse que infelizmente esta é a nossa realidade, certa vez comentei contigo que essa é a “verdade” a qual estamos inseridos, e de uma forma ou outra temos que nos auto-abstrair para não cansar e fatigar mais do que já conseguimos. Sim, ou você acha que o fato de certas surpresas não planejadas (e você sabe quais) que acontecem na minha vida, me deixa feliz? Felicidade é algo profilático e plural demais, talvez pessoal demais, um fato isolado assim como o amor, sem classificação.

Como cantara Jorge Drexler em “La Vida Es Mas Compleja de Lo Que Parece”, a vida é sim mais complexa do que parece ser. Na verdade ela é uma grande piada de extremo péssimo gosto, gostam dela apenas aqueles desafortunados que sorriem do que eles nem mesmos sabem. Nós, por outro lado, somos os afortunados dos afortunados. Por sabermos que não sabemos de nada somos perseguidores e idealizadores do que seria “felicidade”. Compreendes?

Em certo trecho ele diz:
O véu semitransparente do desassossego
Um dia veio se instalar
Entre o mundo e meus olhos.
Eu estava empenhado em não ver
O que vi, mas ás vezes
A vida é mais complexa do que parece
”. (traduzido, é claro)

Se aqui e ali falta empenho, não esmoreça o teu peito, o teu músculo pulsante entre os pulmões por qualquer que seja o motivo. Até porque essa tal complexidade não diz respeito a nós, somos meros fantoches dessa coisa desgarrada e desgraçada chamada “vida”. Cheia de peripécias, não vale muito a pena encher a cabeça de ansiedade por algo que um dia chegará, basta contentar-se em viver, viver o que há pra viver e todo carbono que se puder respirar... Nunca oxigênio.

Escutei também algo mais suave e terno, também do Drexler (como tu bem pôde perceber, eu gosto do som do cara). Na ocasião, a outra música seria “Sanar”. É bom que estejamos e sejamos tamanha intensidade, que graça teria respirar tanto carbono se não para tossir e ter náuseas depois? Eu prefiro mil vezes dizer “sou um fudido no que diz respeito ao meu coração” do que estar em algo estável. Não nascemos para a consolação nem escutar reclamações. Nós somos as reclamações, e o próprio Amarante estava e está certo ao dizer “Eu gosto é do estrago”.

Broto, brotinho, menininha do cabelo liso escorrido pela testa e dos eternos “mimimi’s” de minha vida, não exija o que o tempo não está reservando, nem procure onde não existe razão para procurar. Pessoas como eu e você merecemos apenas a nós mesmos, nos enchemos rápido das pessoas porque como elas, nós somos dedutivos e nem um pouco inovadores.

Certa vez conversei contigo sobre ternura e suavidade. O que são essas coisas se não o desejo de qualquer pessoa que seja? Todos querem aquele estado de quietude e uma tremedeira interna que possa nos manter vivos. Por essas e outras eu digo que:
E ninguém sabe por que um dia o amor nasce
E ninguém sabe por que morre o amor um dia
E ninguém nasce sabendo, nasce sabendo
Que morrer também é a lei da vida
” porque o nosso coração “Vai sarar e voltar a quebrar-se”.
Agora tu me entendes?

É, em outras palavras nem um pouco pessimistas, um ciclo vicioso ao qual estamos fadados. Portanto, alegre-se em ser sozinha, pois sozinhos podemos nos confrontar constantemente no que diz respeito a valores, a aquilo que acumulamos mesmo involuntariamente. Moça, mocinha minha, tudo é tão suave e simplório, somos nós quem insistimos em complicar o que não é nem nunca será complicado. Não é de interesse da própria vida em ser dada, ela é tão puta e vagabunda quanto nós, porque essa vida é uma vida de merda, uma vida de cú.

Por isso, sorria, levante a cabeça e pegue esse restante de oxigênio, transforme em gás carbônico, tussa o que tiver de tossir e ficar com náuseas, porque essa é a melhor sensação de adrenalina constante em estar perdendo aos poucos nossa maior inimiga: a própria vida.

Não se abstenha do que melhor possuímos que é o nosso músculo pulsante em meio aos pulmões. Não se abstenha do que ganhamos como dádiva do bom Deus, que é sermos intensos até não darmos conta de si próprios. Não se abstenha de reverter e converter a merda em adubo e o adubo em matéria orgânica sem valor para que possamos germinar algo produtivo, seja aqui ou em qualquer lugar... Dentro ou fora de nós mesmos.

4 comentários:

Samanta disse...

Nham, me fez bem ler isso. É o que conversamos, difícil é executar. Como te disse, minha intensidade me domina e o meu problema tem sido oxigênio demais.=*

Sol disse...

“E ninguém sabe por que um dia o amor nasce
E ninguém sabe por que morre o amor um dia
E ninguém nasce sabendo, nasce sabendo
Que morrer também é a lei da vida” porque o nosso coração “Vai sarar e voltar a quebrar-se”
Eu sei q foi pra sua amiga, mas cara eu senti que foi pra mim tb uehuheuehuhe
adorei esse trecho. Parabéns Marcos, belo texto. =*

Impulsiva disse...

Filosofar sobre a vida é tua inspiração constante...tuas fortes convicções aqui expostas sempre me fazem arrancar de mim algo novo, mesmo dentro dos meus velhos questionamentos...

Muito bom te ler, tu seria um excelente escritor, tal como o blog, seco, sarcástico e simpático.

Beijos,
Kenia.

Camila disse...

vc escreve muito beem
amei as colocações e seu jeito ....
(Felicidade é algo profilático e plural demais, talvez pessoal demais, um fato isolado assim como o amor, sem classificação.)
tudo é xeio de detalhes em seu texto. ameei mesmo