quinta-feira, 13 de maio de 2010

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Ao som de “Safe Home” da Anthrax




Engraçado como determinadas músicas consomem e nos “hidratam” a ponto de não sermos mais apenas o que somos e sim parte do conjunto harmônico que escutamos.

Tava escutando o Acústico MTV da Cássia Eller (que para mim é o melhor acústico de todos os tempos depois do da Legião, Paralamas e Jorge Ben), e comecei a viajar na maionese como de costume. Em especial, três músicas sempre me constrangem ao instante de dizer “eu queria ter capacidade para escrever isso”; no caso “Luz dos Olhos”, “Todo Amor que Houver Nessa Vida” e “Queremos Saber”.

Essas três têm impactos próprios em mim de acordo com a leveza de cada verso. Do fim pro começo, “Queremos Saber” me ataca com a mensagem de um porvir que não nos pertence e nem sabemos se virá a pertencer. Fica aquela eterna instigação pedante de apenas querer possuir e não poder ter. A era do ter sempre existiu e sempre irá existir. Não trabalhamos para termos o básico a fim de sobrevivermos, labutamos para crescer e possuir o máximo que puder conseguir.

“Queremos Saber” me dá um ar de “O que será que está por detrás da bolha material do tempo, da onisciência de um Deus ou ser supremo que foge da minha finitude humana?”.

Enquanto que “Todo Amor que Houver Nessa Vida” me traz algo de sacana, coisa que eu sou naturalmente e nem peço ou tripudio. É como se a sonoridade meio rock`n`blues de boteco que a música possui me fizesse incorporar a alma de um canalha, daqueles que tem a manha de ser canalha ao mesmo passo que consegue ser amado.

Canalha experiente com a vida como aqueles que mais parecem mestres em contornar o incontornável, conseguir diariamente a proeza de conquistar a mesma mulher mostrando a ela que sou possível sim de “ser teu pão ser tua comida, todo amor que houver nessa vida; E algum trocado pra dar garantia; E algum veneno anti-monotonia; E algum remédio que me dê alegria”.

Sou um péssimo galanteador, e poder me sentir assim mesmo que com uma música acaba por me dar coragem em continuar a brincar (internamente falando), em possuir algum charme que pudesse arrancar olhares vidrados de alguém.

E por último “Luz dos Olhos”. Essa música tem uma espécie de magnetismo que me fascina. Eu sou tosco, besta, bobo, tudo que não presta e não faço questão de esconder. Mas também não debandeio pro lado meloso, fresco nem pedante, nunca e jamais nessa vida.

Ela me fascina porque é algo sincero, dito olho no olho, do tipo “Eu não me importo com mais nada. Tudo que tenho é essa simplicidade em dizer que ‘Os meus olhos vidram ao te ver; São dois fãs, um par’”. É magnético demais isso. É como cantarolar o início do refrão de “Safe Home” da Anthrax, onde diz assim “You have always been my safe home”, ou seja, “Você sempre foi minha casa segura”.

Brinco vez outra que se acontecer a loucura de eu casar (não que eu seja contra, apenas não sei se a pessoa persistirá por muito tempo comigo... também não que eu seja ruim, apenas eu sou eu mesmo, e isso por si só já é complicado), irei cantar essa música na hora da recepção pós-cerimônia.

Vai, pode me chamar de idiota, talvez eu seja mesmo, mas, apenas estou sendo sincero e passível de que é exatamente isso que faria.

Eu sou bobo sim em me deixar envolver por letras de músicas, que muitas das vezes são apenas letras, como dos muitos textos que escrevo que são apenas textos. Mas acredito também que a partir do momento que algo é compartilhado, seja como for, o produto deixa de ter a conotação inicial e passa a ter a conotação que o receptor achar que lhe cai melhor.

Cazuza e Frejat estavam certos no seguinte trecho:
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...”.

Se isso é ser sonhador, mesmo sendo cético; Se isso é guardar ternura e positividade para um futuro no qual eu não me importo, já que quero apenas viver o que é para ser vivido; Se isso é ser ao mesmo tempo impessoal e extremamente intenso (seletivo)... Então eu os sou com todo prazer do mundo, pois são essas e outras coisas em secreto que acredito piamente me tornarem e moldarem continuamente a algo sublimemente relevante.

Música é um troço de outro mundo mesmo.

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