domingo, 20 de junho de 2010

A arte de saber esperar

Sou uma pessoa naturalmente ansiosa, nervosa, intensa e arredia. Não transpareço metade dessas características porque realmente tenho dificuldade em demonstrar certas coisas. Enquanto umas “saem” com mais facilidade, outras somente depois de muito convívio e paciência podem ser notadas. Não sou o primeiro nem o ultimo a ser assim, no entanto, me divirto em achar que com isso possa ter algum diferencial em meio a tanto senso comum.

Enfim, certos acontecimentos vêm testando aquilo que chamo de “paciência” e em principal o que eu ainda tenho como resquício, também conhecida como “fé”. Por ser totalmente voltado para ação acabo por detestar ficar na confabulação por muito tempo. É interessante essa postura porque gosto de fazer as coisas de modo esmiuçado, mas, ao mesmo tempo esse esmiuçado tem quer ser com agilidade e rapidez. Minha paciência torra por qualquer coisa, seja com um olhar, postura, gesto e até timbres de voz.

Já disse, eu sou espontaneamente chato, mas, chato porque vejo motivo para cobrar o melhor a fim de se estabelecer ao meu redor.

Quando me referi à fé, é porque ironicamente sou de família protestante tradicionalíssima, organizadora de igrejas e que ainda valoriza doutrinas teológicas, coisa que hoje em dia virou uma lenda urbana; Talvez por isso, infelizmente, a realidade protestante esteja como está. A ironia cabe quando essa minha completa funcionalidade constante não consegue atender as necessidades da fé que diz justamente ao crer e esperar. Em Hebreus 11:1, passagem clássica e conhecida de muitos, diz: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”.

Logo, a questão vai bem além de uma simples passagem bíblica e sim o todo que envolve a mesma passagem. Se a Bíblia é a palavra de Deus, que é viva e eficaz, que constrange o ser a voltar a real natureza daquilo que se é e a questionarem-se certas coisas mesmo que elas não sejam admitidas; Portanto eu entro em conflito com aquilo que sou que deveria fazer sentir, esperar...

A arte de saber esperar está, na minha vida, ligada ao coração. Esse músculo pulsante entre os pulmões já me enganou inúmeras vezes e precisa ser educado momento a momento, apesar de que, o coração em si não mora entre os pulmões e sim na mente. A mente é o ponta-pé inicial de todas as coisas. É lá que a vida é fabricada para poder se manifestar pelo que chamamos de “atitudes”. Quem sou eu diante das minhas, e isso pode gerar muitos comentários, mas, desde já eu digo que nenhum deles vai entender e chegar perto do que a fé em si e o tamanho da minha ironia diante dos fatos representa.

Diante do imediatismo que ninguém está isento, eu me vejo como num Ensaio Sobre a Cegueira, tateando o mundo com os meus sentidos na desculpa de que tudo é novo e viver é preciso. Retrocesso, isso sim! Retrocesso! A arte de saber esperar está intrinsecamente ligada a saber o meu lugar neste mundo que me deixa cada vez mais cansado e mostrar ali alguma diferença, relevância, modo de ver as coisas para que outras tantas possam ser valorizadas e imitadas.

Disse inicialmente que algumas coisas têm testado minha paciência, e a paciência está ligada a fé e a fé à minha maturidade. Daí se pode ter uma noção do quanto o caos se instalou de vez no que chamo de cerne. Se a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem, logo o ensaio sobre a cegueira está mais vivo do que nunca não só na minha vida, mas na de quem quer que seja. Tem uma música que o Leonardo Gonçalves canta, o nome é Presente de Deus, e em determinado trecho diz assim:

"Olhando pra mim consigo entender o Seu Plano.
Tantas coisas ganhei pra com outros poder repartir
Estou seguro em Sua Presença, eu sou Seu filho.
Fui aceito em Sua casa, fui salvo para servir"


[...]

A indagação é: Diante de tanta coisa o que se vê quando nossos olhos se voltam para nós mesmos? É chato dizer isso? Cansativo levantar a indagação? AH! Sinceramente para mim tanto faz como tanto fez, é essa falta de conhecimento sobre a própria natureza que cega, causa impaciência e abstinência da fé. Fé é o que nos resta num mundo onde não existem valores nem prioridades, onde o agora dita até o que o ser humano deve ser e como ser.

Há muito que crescer e eu continuo com meus joelhos dobrados em secreto no meu quarto ou onde seja possível prestar alguma reverência como Ele merece. E digo mais, mesmo que você não tome a mesma atitude, é a única que realmente se torna eficaz a ponto de moldar o carater e formas de se viver.

Um comentário:

Polly disse...

Olá,

A paciência é realmente um dilema... Quanto mais achamos que a possuímos, mais aparecem situações que nos mostram o quanto temos um longo caminho a percorrer para alcançá-la! Enfim, se não fosse assim, talvez não seria tão interessante dar cada passo nessa jornada, não é mesmo?
P.S: Adorei a comparação com 'Ensaio sobre a Cegueira'

Um beijo, até!