quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Deixa eu sonhar que é possível

Ela se move devagarinho, cada passo parece que vai criar vida própria, o corpo esguio balança como se fosse se partir em vários pedaços. O meu coração palpitando tentando se manter sereno, incube meus olhos de apenas desejar em secreto, seguindo o movimento até gravá-los. Não erro guardar esse momento na mente e reprisá-lo sempre que houver necessidade de sonhar.

Tom Jobim uma vez cantou em Triste: “O sonhador tem que acordar”... Acordar pra quê? É mais gostoso e provável, minha menina, ficar aqui quietinho detalhando teus passos, sorriso, cheiro e maneira de falar. Mesmo que todas estas coisas sejam feitas a distância, pois nem saber que eu existo você sabe.

Vem menina, não faz assim comigo não. Ela zomba de verdade, só com a alma e o coração”, (Curumim). Tô sentado na fundo do bar, chapeuzinho na cabeça, suco de cevada esquentando na mesa, corpo inerte, olhos sem piscar e protegidos contra reações inesperados por detrás das lentes escuras dos óculos do meu RayBan falsificado. Fim da tarde, o cenário perfeito para sonhar, pôr do sol logo atrás, blues trincando de alto, iluminação ficando dégradé.

Ela já até foi embora, mas eu continuo ali parado, estático no mesmo lugar sonhando, talvez na possibilidade de que aquilo ali é possível, mas, “o sonhador tem que acordar”. Reluto e não me entrego, o mundo real não tem graça! As pessoas são todas iguais, deixa eu aqui maneiro com a minha trilha sonora interna a devorar cada repetição do que vi.

Amores são para serem degustados, tratados almejados, mimados, questionados, guardados com segurança para não sublimarem.

Vestido costa nua, sem estampa, mas com cores fortes, um palmo acima do joelho, sandália rasteira, pele morena clara, cabelos castanhos quase negros soltos com pontas onduladas modestamente e naturalmente loiras, brincos de argola, boca grande, carnuda, olhos extremamente bem desenhados com as laterais levemente puxadinhas quase como uma gatinha dengosa que se esfrega na perna alheia.
Repetição, repetição, repetição. Levanto cambaleante, acordo pra vida. Que merda! Tava realmente bêbado!