segunda-feira, 4 de outubro de 2010

É…

Ao som de Satisfied Mind do Johnny Cash, na voz do Jeff Buckley





Os últimos dias não têm sido de muito entusiasmo, nem mesmo de motivos para bater as palmas, tampouco de deitar a cabeça no travesseiro satisfeito com mais um dia vivido. Não tô reclamando de barriga cheia como alguns poderiam afirmar. Não tô dificultando ou colocando empecilho onde talvez não exista. Não é isso, é apenas o acúmulo de muita coisa pra alguém que só se manifesta escrevendo e não no meio dito social.

Também não é se pondo em situação de excêntrico, ou exclusivo, ou aludindo ser/querer ter algum diferencial. É mais como dissera Alfredo Bosi em seu prefácio no último livro de poemas do Ferreira Gullar (Em alguma parte alguma): “A poesia é fruto de um silêncio dentro e entre as pessoas”. Bem, acredito que esse silêncio signifique alguma coisa para mim, porque é no que mais tenho me habituado a assumir e ficar.

Me acostumei a fingir sociabilidade, me acostumei a sorrir quando converso sem realmente ter um motivo. Mesmo que sorrir não precise de motivos já que sorriso lembra felicidade, alegria, mas eu não tô muito feliz, e discordo da alegria também. Talvez pelo fato de o meu próprio ser esteja começando a cobrar posicionamentos, pensamentos, atitudes de alguém que quer algo na vida. Mas, que vida se eu não consigo dar nem mesmo um passo?

Certa vez, estava na igreja e li a passagem que está em Mateus 15, versículos 11 e 18. No apanhado diz assim: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem; Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem.”. Há quem diga que a Bíblia é um apanhado de auto-ajuda, ou um apanhado de momentos inspirados por homens e mais ainda uma grande besteira. Eu não perco meu tempo dizendo, me opondo, questionando ou refutando quem pensa ou deixou de pensar essas coisas e outras. Perco meu tempo lendo esse “almanaque” de livros que a mim ensinam bem mais que simplesmente viver. Isso também é criticar e racionalizar!
“... o que sai da boca, procede do coração”. O meu tá cheio, farto, agoniado, irrequieto! Tenso, rubro, inchado! O meu tá inconformado, ansioso, irritado, cego, mudo, gritando sensibilidade sem conseguir se expressar.

Parafraseio mais uma vez o Gullar:
e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado

Confesso que nunca dei muita atenção para as obras dele. Apesar da incrível importância que dão para a sua pessoa e obras no cenário nacional, etc., somente por esses dias bem incomuns é que muito do já foi escrito pelo mesmo encontram tradução. Sentido, pressentido, vivido e afogado. E olha que o Ferreira é da mesma raiz (atualmente podre e alienada) que eu (maranhense). Meu emprego me dá raiva, minha faculdade parece que quer formar mais um operário ou uma máquina inanimada educada para apenas dizer “sim”, minha família não quer tomar jeito, minha vida pessoal e amorosa é uma piada. E eu me vejo sozinho lutando em silêncio contra tudo e todos e até contra mim mesmo para continuar a perseguir um objetivo que nem sei mais qual.

I seek the silence through the chaos and the noise”, cantou a banda norte-americana Third Day em I Can Feel It. Enfim, chega de charamingo! O jeito é levantar mesmo a cabeça e continuar insistindo até se abrigar ou conquistar alguma coisa. Não é possível que tanto esforço diário, não apenas meu, mas de uma massa populacional inteira, sirva de nada!

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