terça-feira, 16 de novembro de 2010

Intimismo gritante

[Pensamentos soltos como pipas sem linha] - Por algum motivo Deus me fez à lá Bloco do Eu Sozinho; sim, como o disco da banda carioca Los Hermanos, que no caso, pra mim deixou de ser boa há muito tempo. Por algum motivo o cara mais excêntrico, criticado, desacreditado, questionado, louvado, reverenciado e mal interpretado (Deus) me fez com os olhos mais voltados para alma do que para quem está do meu lado.


Tem alguma coisa nessa coisa de olhar para alma que me cativa bem mais que a aptidão de conhecimento, experiência de vida, política e social que alguém tenha ou sei lá o que de cativante. Tem algo de exótico que somente um filete da grande parcela de pessoas no mundo todo, possui. É essa parcela que me constrange, anima, excita, faz com que fique besta babando por aí algum tipo de vislumbre.


Li em determinado trecho do livro O Mistério da Consciência, do neurologista português, Antônio R. Damásio, dia desses que “de um modo ainda mais imperioso, talvez a consciência seja a função biológica crítica que nos permite  saber que estamos sentindo tristeza ou alegria, sofrimento ou prazer, vergonha ou orgulho, pesar por um amor que se foi ou por uma vida que se perdeu.” (pág. 19); talvez seja verdade a premissa em que a ignorância seja bem-vinda àqueles que nada sentem e estão alheios ao mundo e seu derredor.

Se formos parar pra analisar, nada do que realmente existe no tocante ao mundo das idéias, do que é empírico e imaterial realmente existe fora do nosso corpo, da alma em si, da nossa egoísta vida e visão. Se amamos não amamos tal pessoa, coisa ou situação, amamos o sentimento ou construção de situações e ponderações que gera amor em nós. Paixão, dessa forma, é a mais egoísta e traidora das formas de sentir. Que dirá a morte, o segundo grande trauma pelo qual o ser humano passa, porque o primeiro é nascer.

Trauma porque o ser em questão tem em si uma memória em constante edição, logo, ela precisa estar sempre sendo “lembrada” do que é funcional e imediato para por fim ter consciência das coisas que existem no mundo material e imaterial. Ou seja, nós não cogitamos o que seria morrer porque não entendemos o que é a morte. Esse rompimento brusco machuca e constrange o ser a algo que ele não pode acompanhar e reeditar.

Seguindo o enredo, a ultima edição da revista Piauí (Piauí_50 – Novembro/2010), que desta vez veio com excelentes artigos e reportagens-crônicas de cunho sociológico e antropológico, faz-se destacar os escritos de Clara Becker e Otavio Frias Filho; enquanto ela destrincha e disseca a respeito de lideres religiosos que também são psicanalistas em uma reportagem-crônica de cinco folhas cuja dimensão, referente à revista por inteiro está em 26,5 cm x 34,8 cm num indo e vindo bastante didático e eloquente, ele discorre de modo imponente e salientador bastante clínico sobre Lévi-Strauss e a sua incontestável importância para a antropologia e sociologia estruturalista moderna fazendo assim, uma comparação abismal entre século XX e XXI.

Trecho como: “Um fonema ou uma letra não significam nada em si, mas passam a significar quando postos em contraste com outros fonemas e letras. Um punhado de fonemas ou letras invariáveis, quando combinados, produz uma infinidade de sentidos.”, me faz pensar que por ventura, realmente, talvez quanto mais excêntrico mais atraente se faz. Que também somos por demais primitivos e eternos dependentes de algum tipo de sabedoria, um direcionamento, algo ou alguém que indique um caminho dentre tantos existentes por aí e que incansavelmente tomamos, até um dia acharmos em dar o nome de “experiência de vida”.

... 

[“Eu ouço sobre o amor e me calo”] - Nada precisa ter muito nexo quando o assunto é amor, afeto, desejo ou o caramba que seja! Certos valores vão alem de simplesmente querer, estar e poder. É refletir naquilo que não se pode ter e mesmo assim continuar ali insistindo, porque tudo nessa vida de merda se resume a esperança; mesmo que não seja uma coisa confessada.

[“Soy jardinero de mis dilemas”] – Duvido que haja ser bem resolvido! Duvido que haja paz plena em quem cogita algum tipo de raciocínio em estar vivo! Duvido que seja possível dizer que se entende por completo o que o outro sente, pensa, vive! Duvido que seja possível relacionar-se sem deixar de doer e doar algo do corpo, da essência. Em algum momento a necessidade de dizer “não” ou “sim” aparece e parece que todos se protegem como se precisassem o tempo todo estar se justificando para não serem tão explícitos. Que mal tem em deixar claros os óbvios e não óbvios?

Duvido que haja alguém realmente coerente do que faz e quer. Impulsos inerentes a qualquer um são comuns. O que queremos é ser ouvidos e atendidos no que toca aos nossos desejos, mas a outra pessoa ao nosso lado também o quer! Fica então aquele velho jogo e queda de braço, interesses machucados, rompidos, satisfeitos, saciados, almejados ou planejados em conjunto, solitários. Faz sentido isso tudo que tá sendo escrito? Nem um pouco, são apenas dilemas que alguém que tenta se arar na terra.

[“Qual sentimento hoje eu vou viver?”] – Falta mesmo um porto seguro, um lugar para descansar, desestressar, e como diria aquela velha música: Para viver bem e não se entristecer por qualquer coisa à toa. Alguém mai vai me explicar como é saber viver? Sem direcionamentos espirituais, relacionamentos, bom emprego e realização material ou pessoal; estamos falando de saber viver, nem se entristecer ou abalar por qualquer coisa à toa. De fazer o peito respirar sem haver aquela sensação de ter um tijolo sendo arremessado.

Poderia se dizer que viver bem é ver um sorriso no rosto de quem se gosta ou a satisfação por ter feito o bem a algum desconhecido. Poderia ser dito também que viver bem é ter algum tipo de conhecimento e continuar a buscar por mais, e por ventura disponibilizar debates e embates lógicos, fomentar discussões que gerem algum tipo de contribuição na sociedade.

Talvez apenas tiver aquele ponto de refúgio, dizer o temido “Eu te amo!”, ter família estruturada, gozar de uma vida regada com liberdade de ir e vir, de ser e estar, de poder e não se contentar em apenas ser tão simples. Estamos falando de viver bem, de olhar para dentro da alma e conversar um pouco com ela...

... 

Eu sou um ansioso nato!

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