quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Se tudo ao redor te grita: "Sem demora, sem demora!"

Ao som de Inoportuna do Jorge Drexler





Seguindo o enredo da leitura dos sortidos versos de Ferreira Gullar, em seu incrível Em alguma parte alguma, extraio dessa vez a primeira estrofe do poema “Falar” incluso no mesmo:
A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.

[...]

Tava arrumando minhas coisas na eterna bagunça que é o meu quarto, e achei escondidinha uma carta da minha ex. Eu conheço a carta, havia lido com bastante voracidade e alimentado bons sentimentos na época. Por curiosidade advinda da minha profissão (jornalista) e também do signo do zodíaco (escorpião), resolvi reler a tal carta.

Eis que me deparo com uma carta-despedida, uma série de palavras que mais parecem ressalvas e não uma declaração de afeto. Curiosamente a carta foi entregue com data de 06/08/2009, sete dias antes do namoro acabar.

Mas, péra lá! Antes que se possa pensar que isso aqui é um texto ao estilo lavar roupa suja, quando disse q reli a carta, reli pra me situar, depois reli pra analisar e daí surgiu a idéia de montar o texto. Minha ex não é das mais extrovertidas ou acessíveis. Orgulho-me de ter namorado com ela porque realmente era uma vitória dia após dia estar com ela! Naturalmente calada, com um senso gritante de desapego e indiferença, contrastava totalmente com o meu de cuidado, crescimento mútuo, zelo, e interdependência.

Como ela mesma mencionara em um trecho: “Eu também sou um monte de coisas ao mesmo tempo, muitas que eu nem sempre consigo controlar, muito menos explicar. E tu foste corajoso o suficiente para tentar se arrumar nessa minha confusão”, disse ela.

E assim continuou com: “Tu és frio por fora e quente por dentro. Eu sou quente por fora e muito mais fria por dentro, mas sou muito sensível (dura contradição). Acontece que o gelo não é permanente, já foi quebrado alguns momentos, se refez em outros... eu gosto de opostos, embora às vezes pareçamos ser versões diferentes de um mesmo projeto. A tua ansiedade e inquietude contrasta com minha quase paciência e desapego, o que eu tento passar pra ti, em vão muitas vezes. Não que eu queira mudá-lo, porque também não acredito em mudança de fora pra dentro e também porque gosto de tu assim. Mas tu sempre falas em “somar”, “crescer juntos”, então passei a considerar isso como positivo.”; Não tem como não se apaixonar por uma pessoa assim!

Apesar da confusão e aparente equilíbrio emocional e psicológico, minha ex não é das mais estáveis. Todavia e doravante pela minha bagunça interna, era eu quem servia de porto-seguro, equilíbrio, freio, estabilidade e constância. Admito isso porque confesso pensar muito antes de agir e se por acaso vejo que mais a frente o tal pensamento ou ação não vão me render fruto algum, deixo de lado mesmo que a pessoa ou situação no momento possam ser incríveis.

Lendo cada frase como se fosse a primeira vez, percebi que aquilo era um adeus, até porque com a carta vieram anexos: um com uma estrofe da música Infinito Particular da Marisa Monte (cantora que ela simplesmente venera) e outra mini-carta em que pedia desculpas inconscientes, mas escritas, por simplesmente “extremo egoísmo. Sim, egoísmo por querer  tanto te manter comigo sabendo eu que não estava sendo a melhor opção. Mas, tu continuarás por perto, então egoísmo não faz sentido.”.

Era um adeus porque eu já estava desanimado com o relacionamento. Discussões, chamadas a atenção dentre outras coisas me faziam sentir como se eu fosse o pai dela e não o amigo e também namorado. Eu, naquele momento, queria uma mulher e não uma menina. Não que ela não a fosse, é que simplesmente era o caso dela ficar a sós consigo mesma para se organizar, reavaliar valores e prioridades, ver onde eu me encaixava e ela mesma na sua própria vida. Eu estando ou não ali não iria alterar o produto. Certas coisas são na nossa solidão que tomam forma e se ajeitam. Repito: não podemos dar algo que não temos!

Como disse anteriormente, a minha interdependência era o mais conflitante pra ela. Apesar de eu ser todas as coisas, e notoriamente difíceis de darem certo, minha ex tinha necessidade em cuidar de mim, tanto que no fim da carta ela escreve entre colchetes “Eu vou cuidar de ti!”. Eu que detesto que façam isso! Detesto que tentem cuidar de mim porque é como se estivessem invadindo minha individualidade e eu respeito demais a de todos. Pode parecer grosseria, mas eu não gosto mesmo.

No entanto, de tudo se pode aprender algo nessa vida. Desse namoro pôde-se descobrir que o meu senso de desapego também existe, mas não é frio e indiferente e sim tolerante e pró-ativo sempre que necessário. Descobri também que apesar de ter repudia em quererem cuidar de mim, se quero cuidar preciso deixar ser cuidado (o que é mais complicado de admitir e deixar acontecer, mas venho tentando descansar e deixar rolar isso) e que a minha interdependência não pode ferir as pessoas como se eu não precisasse delas e vice versa.

Minha ex hoje está com um novo namorado, eu continuo solteiro. Sorte a do cara, e mais sorte ainda se ele conseguir desvendar e tiver paciência com outros tantos entraves que eu repudiava, mas me calava porque não queria ofender e ser grosseiro. Aprendi com ela a essência da palavra “ponderar”. A verdade é que quem precisava crescer mesmo nisso tudo era eu e não ela. Talvez ambos se assim convier, mas agora é tarde pra chorar leite derramado e muito menos lavar roupa suja. Como havia dito no inicio do texto, foi feita uma análise e não outra coisa qualquer. Pronto pra outra queda de braço afetivo-amoroso? É, quem sabe...

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