quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Alma dignificada?

Tive muitos problemas ao tentar escrever esse texto que por ventura acho que alguém está lendo. Sim, problemas! Não aqueles que podem ser vistos, mas, falo de problemas internos, até porque me afetaram enquanto pessoa e por várias vezes e dias quiseram que eu não escrevesse uma sequer linha. Sabe lá qual tenha sido o motivo ou apenas mera preguiça, é com grande alegria que assim compartilho essas poucas...

[...]

Tava lendo outro dia a matéria de capa da Revista IstoÉ dessa semana (N° 2151 do dia 2 de Fevereiro) a qual trata de um assunto pra lá de manjado, polêmico, mas que sempre traz à tona uma série de discussões. A matéria de capa se trata sobre Valdemiro Santiago, ex-lavrador que construiu um império religioso nacional e internacional a base da igreja da qual ele é fundador e idealizador, a Igreja Mundial do Poder de Deus. Valdemiro afirma que o seu trabalho é o altar; seu negócio é multiplicar almas. A meu ver, tal como para os jornalistas que escreveram a matéria, a igreja é uma cópia escarrada da Universal do Reino de Deus... Daí vocês já podem sentir o que vem pela frente!

Fundada em 1998, na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, tem cerca de 3 mil templos espalhados pelo Brasil e outros 19 países ao redor do globo, possuindo assiduamente um número extremamente considerável de 4,5 milhões de “fiéis” ao que se considera “evangelho” pregado pela igreja.

Mas, antes de qualquer coisa, eu vou ser bem didático naquilo que considero ser igreja, o que deveria ser uma igreja e qual o seu papel dentro duma sociedade, ok? Igreja nada mais é do que o agrupamento de pessoas de mesma fé não se tratando de um lugar físico, com paredes e cadeiras ou qualquer outra tipo de conforto e objeto que se ligue fazendo lembrar um templo. De acordo com a própria Bíblia, que em outra oportunidade disse que se lida com mais frequência, respeitada e tida como regra de fé e prática verdadeira, a vida e o mundo, as pessoas em si não seria o que é e o que são!

Mas, como estava dizendo, de acordo com a Palavra de Deus em I Coríntios 6:19 é feita uma indagação:

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”

Templo também é o nome utilizado para Igreja, pois se entende que é um local onde se agrupam pessoas de mesma fé para prestar um culto, assim como já havia dito anteriormente. Igreja somos nós, templo é todo o nosso corpo e ser, logo, se nós somos esse templo, essa igreja, qual é então a qualidade, conceito, valor e aquilo que estamos tendo? Se por acaso a sua resposta for a de costume e do senso comum como pejorativamente se fala por aí: “Pequenas Igrejas, Grandes Negócios”, me desculpe, mas você é tão vítima de um evangelho deturpado quanto qualquer outro.

O papel da Igreja dentro de uma sociedade é o de reabilitar pessoas, trazê-las para mais próximas de Deus e seus desígnios, pois todo mundo sabe que seguir a Deus não é tarefa fácil e tudo que não é fácil requer molde completo de valores e prioridades e daquilo que temos feito e pregado em nossas vidas, com nossos atos. Além de todas essas coisas, a Igreja é o local onde os servos de Cristo se reúnem para adorar a Deus. Em Atos 2:47, diz:

“Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.”

“Louvando a Deus, e caindo na graça do povo”, significa que além de estar fazendo a vontade Deus, buscando-O em primeiro lugar e respeitando-O, dando bom testemunho e ajudando ao próximo, pregando o evangelho como assim Cristo havia ordenado, a Igreja era bem vista recebida pela comunidade. Nos versículos anteriores, para aqueles que tiveram a curiosidade de irem ler, é dito também que eles tinham tudo em comum, repartiam e vendiam seus bens o que podemos entender que todos eram iguais, não existindo intenção de calúnia, soberba, ganância e outros crimes comparados ao roubo e furto. Aonde os discípulos e apóstolos de Cristo iam pregando o evangelho as pessoas sentiam a necessidade de mudarem suas vidas, arrependerem-se de seus pecados e servir a Deus em intimidade e sinceridade.

Sinceramente, se formos levar para o contexto atual dizer ser de uma determinada igreja é motivo de chacota, desconfiança e sinônimo claro de otário ou ladrão! Digo isso porque nasci em lar protestante, sou sobrinho de pastores e missionários e quando era mais novo existia ainda certo respeito e reconhecimento de que servir a Cristo era uma tarefa sincera, contrita e valorosa.

Não to posando de santo, até porque já disse também em outro texto que filho de crente não é crentinho, e só vim perceber isso há uns dois anos. Se assim querem chamar isso de conversão, então em me converti com 21 anos. Com 21 anos já havia feito muita coisa, tinha valores deturpados e era completamente alienado, só não me dava conta disso e o fato de que eu era também responsável pela desgraça que hoje é a imagem da Igreja perante a sociedade.

E como estava dizendo lá no início do texto, a Igreja Mundial do Poder de Deus é uma cópia cagada e cuspida da Universal do Reino de Deus. Todos nós sabemos que dali coisa boa num sai e está completamente distante do que é verdadeiramente Poder de Deus ou Reino de Deus. Pra começar, as pessoas hoje “buscam” a Deus pelo que Ele pode fazer e não pelo que Ele é! Em Isaías 9 na parte B do versículo, onde o profeta 500 anos antes já estava dando as características de quem seria a pessoa de Jesus Cristo, que foi Deus encarnado, a figura do Deus Filho entre os homens, diz:

“e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”

As igrejas hoje estão abarrotadas, Deus se transformou num mordomo, e os cultos mais parecem Freak Shows com seus frontman muito bem vestidos cada um com seu estilo ludibriante de pregar a versão da Bíblia. A moda agora é a gritaria, óleo da unção, rosa ungida, copo de água em cima da televisão, seção descarrego, orações de imposição, milagres e mais milagres, curas e maravilhas, falar em línguas estranhas e outros demais rituais que mais parecem terem vindo de um terreiro de macumba do que propriamente daquilo que se conhece como Palavra de Deus.

A Palavra é uma só, não existem versões, nem invenções, deduções, esclarecimentos e interpretações. Como está escrito em I Coríntios 2:14 que homem não entende o que é espiritual porque se assim o é então apenas espiritualmente se entende. Portanto, se é espiritualmente que se entende e Deus espírito é de conclui-se que somente através da intimidade com o próprio Deus é que a compreensão e revelação poderão existir. Se um pastor ou outro líder de igreja fala é porque ele foi inspirado para aquilo, a mensagem que ele profere não é sua e sim dada por Deus para a edificação e amadurecimento dele mesmo e dos que a escutam. Essa deve ser a verdadeira reverência e senso de que somos apenas um instrumento já que Deus não tem boca nem mãos nem qualquer outro membro ou órgão humano para assim pregar sozinho o evangelho.

Quem prega o evangelho tem como prioridade e importância pregar o Cristo crucificado que morreu em nosso favor e não um amontoado de palavras que mais parecem ter saído de um livro de auto-ajuda. Nos versículos 8 e 17 do capítulo 14 de Romanos está escrito:

“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. [...] Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”

O Reino de Deus não se restringe ao mundo material, ao mundo do agora, ao mundo da graça alcançada, dos milagres obtidos e da cura que aconteceu! Deus é Deus independente da situação e a nossa função é louvá-lO. Em Salmos, capítulo 37 nos versículos 4 e 5 diz que nós devemos nos agradar primeiramente do Senhor para que todas as outras coisas nos sejam acrescentadas, que devemos entregar aquilo que está em nosso coração que Ele assim o fará, e fará se realmente for de utilidade e necessidade e não por mero capricho ou baseado num evangelho charlatão e fajuto como é o pregado por essas igrejas neopentencostais que só servem para atrapalhar a paz alheia, a ordem social e deturpar o evangelho de Cristo, alienando muitos e alimentando a ganância e total carnalidade daqueles que se auto-intitulam pastores, bispos, apóstolos ou qualquer outra nomenclatura que faça menção a serem lideres de um rebanho religioso.

E antes que eu deixe passar, Discípulo é todo aquele que viu a Cristo ou teve uma experiência física e espiritual com Ele; Apostolo é somente aquele que conviveu com Cristo e foi selecionado por Ele mesmo para estar mais próximo; Pastor é um título dado a todo aquele que tem a vocação para ser ministro do evangelho, que estudou teologia e práticas cristãs em um Seminário Cristão Protestante e foi indicado pela igreja com o conhecimento da congregação desta igreja; Dízimo é a décima parte de tudo aquilo que recebemos e temos, não se restringindo apenas a dinheiro e sim a qualquer coisa que possa ser usada para louvor a Deus e pregação da sua Palavra, o dízimo é usado também para manutenção da igreja enquanto organização física e não o organismo físico que somos nós e para o sustento dos missionários e ministros que abandonaram tudo que tinham para servir a Deus integralmente!

Finalizo meu texto com a passagem de Romanos 12:1 e 2:

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Se o templo, a igreja somos nós então que as nossas atitudes, e o nosso pensar e aquilo que decidirmos possa ser para honra e glória de Deus. Que seja então com os nossos corpos esse culto a ser dado de modo racional e não fantasiante como se todos estivessem loucos. Não devemos nunca nos conformar, mesmo que algo seja dito e encabeçado com o jargão de que é para Deus. E antes de qualquer coisa, devemos nos deixar ser instrumentos, renovar nossos valores e modo de pensar para assim conseguir entender qual é “a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.

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