quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Retrato mudo

We are accidents
Waiting
Waiting to happen

There there” - Radiohead

 

Eu me lembro como se fosse ontem, nem parece que mais de 20 anos já se passaram. Taí uma coisa da qual nunca vou me acostumar é com o fato de que as pessoas crescem! Há alguns fins de semana fui ao aniversário de uma tia minha, lá estava reunido um considerável grupo de pessoas, dentre elas estavam familiares e amigos. Não passa pela minha cabeça que o tempo voa, as pessoas amadurecem (ou pelo menos eu cogito que deveriam), constituem famílias (não necessariamente que isso seja uma obrigação), conseguem ter e ser algo na vida (essas últimas duas coisas são quase um ponto “facultativo” na visão de vida da maioria).

O aniversário em si foi mais um como qualquer outro, com direito bolo, salgadinhos e muito refrigerante. Entretanto, eu fiquei observando a situação e me peguei em um estado de embriaguez nostálgica. As filhas dessa minha tia aniversariante faziam homenagens à mãe com lágrimas, palavras de afeto, amor e orgulho. Todas são muito bem casadas, satisfeitas com a família que constituíram, algumas delas já têm até filhos. E pensar que uns 20 anos atrás éramos todos uns pivetes que brincavam e brigavam juntos. Sim, tenho 24 anos, mas sou um dos mais novos da minha família dentre os primos.

Assim como a minha vida e a da minha irmã, a delas não foi muito fácil. É que o casamento da mãe delas protagonizou épicos embates e um lamentável desfecho: o divórcio. E de embates familiares épicos eu entendo bem. Durante os meus quase 24 anos, os meus pais estiveram em pé de guerra, sempre alternando o clima entre separações e muitos pedidos de desculpas. Talvez somente eu e minha irmã é que entendemos essas nossas primas em especial, além da mãe delas (a aniversariante). Talvez somente nós dois é que compreendemos o real sentido das lágrimas, do orgulho, da generosidade dada de volta assim gratuitamente em uma festa convencional, porém peculiar diante das muitas outras.

A vida é uma eterna nostalgia, e eu viajo na maionese com essas coisas! Viajo até não poder mais e dizer “Chega!”. Fico me questionando se outros passam pelo mesmo drama, se desfrutam de experiências semelhantes, ou se incorporam sensação superior à de ver um filho nascendo e com ele um mar de novas oportunidades. Sinceramente, na grande maioria das vezes eu me sinto muito menino por não conseguir ter pensamentos e desejos ricos em estabilidade e espírito familiar. Talvez eu seja só mais um materialista que encobre as derrotas infantis com trabalho e mais trabalho.

Especulo que o motivo dessa incerteza seja o medo. Como consta num trecho do cantor oficial das trilhas sonoras de novela, Lenine:

“O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão”

Daqui há menos de um mês a minha irmã irá casar, e eu, ao que tudo indica, vou ficando para “titio” como dizem. Se me preocupo? Acho que ainda não estou no momento de entrar na paranoia ou de começar a ter aqueles bobos sentimentos “forever alone” que só os períodos chuvosos podem provocar nas pessoas. Se existe algo que aprendi foi a não gerenciar nem planejar a minha vida, mas também não quer dizer que eu adote aquela filosofia decadente de “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Eu prefiro pensar que reservo os meus dias à surpresa, ao que é cheio de improbabilidades, à emoção e adrenalina do que porventura venha a ser considerado “novo”.

Eu gosto da adrenalina de poder me sentir vivo, de oferecer essa vivacidade a quem mereceu um capítulo nos meus dias. Gosto de pensar que tudo não passa de mérito, da sagacidade que é se entreter, conhecer, conquistar, degustar e compartilhar. Sim, eu sou bem menino nesse aspecto, confesso. Contudo, talvez seja disso que os ditos maduros precisam.

Lá pelas 22h o aniversário chegou ao fim. Copos de plástico jogados no chão, meus primos de segundo grau dormindo pelo sofá enquanto os seus pais, os meus primos de primeiro grau, estavam reunidos na cozinha jogando papo fora. A visão me pareceu igual a de quem contempla uma arte com o derredor estático, no mudo e sem animações em 3D. No fim, penso eu, nunca deixaremos de ser as mesmas crianças de outrora, que apesar da insistência em crescer mantiveram os sorrisos, charmes e delícias peculiares muito bem conservadas, todas reunidas em volta de uma mesa falando as mesmas abobrinhas de sempre.

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