sábado, 9 de fevereiro de 2013

Os desejos do meu coração

Ultimamente tenho pensado muito sobre desejo e propósito. Há quem diga que dá no mesmo, mas, não sei, entendo que as duas coisas se confrontam o tempo todo. Pra começar, entendo como desejo aquilo que diz respeito a um estado de carência, algo imediatista e de satisfação pessoal; enquanto que propósito são um conceito e visão bem mais amplos, coletivo e objetivo. Para alguns, esse dilema parece muito bem tolerável ou até mesmo de fácil superação, porém para pessoas como eu, o buraco é bem mais fundo.

Por estar pensando muito em desejo e propósito, então não posso deixar de refletir em cima do que anseia a minha vida, minha alma, meu coração. Também não posso deixar de levantar autocrítica quanto ao que penso e alimento no consciente e às frivolidades emocionais, pois já está mais do que na hora de adotar comportamentos e posicionamentos equilibrados e sensatos.

Não sei quanto a vocês, mas eu gosto muito de procurar espelho para as minhas decisões e condutas diante do que a Bíblia me apresenta. Nem sempre consigo alcançar o objetivo (propósito), entretanto, isso não significa que não deixe de almejar (desejar) esse fim. No Salmo 25 versículo 17, o rei Davi, como sempre, dilacera suas emoções e vulnerabilidades sem dor na consciência. Para ele, era muito mais válido rasgar o verbo e esmurrar o próprio peito, porque apenas trancar-se nos pensamentos e sentimentos parecia por demais torturante e solitário (assim penso eu).
“As ânsias do meu coração se têm multiplicado; tira-me dos meus apertos.”
Quantas vezes eu acordei de madrugada e não consegui mais dormir, quantas vezes eu fugia para o banheiro, sentava sob o chuveiro ligado e ficava lá, conversando sozinho com o meu Deus sobre o que apertava o meu peito e moía os pensamentos. Quantas vezes eu pedi que determinadas emoções, perspectivas e angústias fossem tiradas a força, porque do que depender da minha disposição humana então não teria a mínima condição. É em situação assim que a minha pequenez fica escancarada, e, com toda a sinceridade, não faço questão de esconder.
“Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.” - 1 João 3:20
O meu coração já se mostrou nobre em alguns momentos, mas mais burro e inconsequente na maioria das oportunidades em que ele esteve à frente dos eventos desta vida. O meu coração não é dos mais pacíficos, não é dos mais tranquilos. Ele é como colocar a cabeça pra fora da janela enquanto um carro está em alta velocidade, ou como escutar aquele som mais desesperador e nervoso que tem por aí, ou como uma chuva com ventos fortes e raios barulhentos daqueles que fazem tremer as paredes. O meu coração é dramático, colérico, melancólico, passional e intrigante.

Certa vez, parei pra raciocinar em cima de como o coração se comporta quando colocado em uma situação de desejo e propósito. Você já esteve em algum momento claro e óbvio entre razão e emoção? Pois é justamente o mesmo dilema! Como eu havia dito lá no primeiro parágrafo, o desejo é algo mais imediatista e por isso acaba por ser volátil (mas nem por isso menos importante, porque quando bem aplicado faz surgir a espontaneidade e com ela a veracidade no falar, sentir e agir), enquanto que o propósito é a parte racional considerando todos os prós e contras, acertos e erros, relevâncias ou não. A própria Palavra Sagrada afirma que não sabemos orar como convém (Romanos 8:26), e a oração, a meu ver, não brota do nada, não brota de um propósito, ela brota de um desejo de uma ânsia louca de acalmar o coração, de compartilhar com Alguém qualquer coisa que seja (petição, confissão, clamor, alegria, graça alcançada, etc.).
“Deleita-te também no SENHOR, e te concederá os desejos do teu coração.” - Salmo 37:4
Então, isso implica em dizer que é do desejo de onde tudo tem um início, o propósito só se faz presente quando esse mesmo desejo é amadurecido e passa pelo crivo da autocrítica (não importa qual seja). E se Deus irá satisfazer os desejos do meu coração, então fico a me questionar quais desses desejos eu introverti, critiquei, ponderei, acalmei, confessei e permiti que se transformassem em propósitos a fim de, mesmo eles ainda sendo desejos, Deus possa ouvi-los e concedê-los.
“Porventura não esquadrinhará Deus isso? Pois ele sabe os segredos do coração.” - Salmo 44:21
O ser humano é uma coisinha tão minúscula, mas quando se trata de fazer tempestades, então consegue realizar verdadeiros estragos. E em sinal de alerta paternal, o próprio Cristo salientou sobre esse nosso músculo pulsante que fica entre os pulmões, tal como está escrito no evangelho de Mateus, capítulo 15 versículo 19, onde diz que é do coração donde procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. Não me admira a quantidade de loucura a que esse mundo tem chegado. Não me espanta o quanto o ser humano está cada vez mais estúpido, vulgar, torpe e morto mesmo estando vivo. Não me espanta o porquê de algumas das minhas reações, assim insensatas e bobas, egoístas, fracas. Nestes últimos meses o meu coração tem sido provado e questionado sobre as mais diversas situações, sobre os mais diversificados desejos e os propósitos que agora mais parecem mesquinharias de alguém mimado e necessitado de amadurecimento. Entendem onde quero chegar?
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos.” – Salmo 139:23 || “Preparado está o meu coração, ó Deus, preparado está o meu coração; cantarei, e darei louvores.” - Salmo 57:7
Eu tenho muito medo de muitas coisas, uma delas é a de ficar só. Sempre gostei de ficar e estar só, contudo de uns tempos pra cá ficar e estar só são as coisas que mais detesto. Odeio o turno da noite, as madrugadas, a casa vazia, o silêncio e o barulho que fica na minha cabeça, a taquicardia que começa no meu peito. Não vejo como fraqueza confessar os medos, não interpreto como vulnerabilidade o fato de trazer para a luz as inseguranças, penso ser até um ato de coragem e desprendimento, talvez até um enorme conhecimento de si mesmo e de cada aresta da alma.

O meu Deus disse que estaria comigo sempre até o fim deste mundo. Ele também disse que, através do Seu Espírito, intercederia por mim como quem geme com gemidos inexprimíveis. E ainda me faz lembrar o tempo todo que de todas as coisas que existem por aí, a vida é a mais frágil e rápida, logo, cabe a Ele sondar tudo o que desejo e deixo às claras, até eu perceber, em meio ao turbilhão, o quanto está preparado o meu ser para o que tiver de acontecer, para o que eu tiver de viver.

Ultimamente eu tenho pensado muito sobre desejo e propósito, percebo até que devo estar passando por algum processo de metanóia emocional/psicológica, mais até do que de costume. Ultimamente eu tenho questionado muito o meu coração sobre os seus desejos cultivados até estes transformarem-se em propósitos. Não sei bem ainda o que pode ser válido diante do enorme leque de anseios e vontades, eu não sei direito o que considerar sobre os vários pontos de interrogação que todos os dias aparecem, um mais abstrato que o outro. Mas é bem aí que eu escuto aquela voz me dizendo: “Olhe somente para Mim, porque todas as coisas são feituras Minhas e todas Eu conheço!”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que precisei ler este artigo, não com um propósito pessoal, talvez apenas por tirar um peso da consciencia, mas na verdade, precisei lê-lo mesmo, para deixar o Senhor da ocasional e dos propósitos falar e buscar a direção Dele. Ele sabe de tudo e precisa ser consultado por tudo. "Não deixa eu fazer por mim, Pai. Cumpra". JanR