sábado, 18 de dezembro de 2010

Poros

"Nós somos acidentes esperando, esperando para acontecer", trecho de There There da banda inglesa, Radiohead

 

 

Maldição!

O amor está em todos os cantos. Na serenidade que alguns insistem em buscar, no equilíbrio do espírito para assim escutar a voz de Deus a fim de guiarnos no caminho correto em que deve seguir e também no bom proceder. O amor parece não aceitar a pós-modernidade, a filosofia do desapego que deixa os sentidos cada vez mais estéreis. É algo quase fisiológico, ou quem sabe, uma necessidade da alma, do corpo, de toda substância em nós existente poder criar “voz” e se fazer ser pronunciável, audível, perceptível.

Não sou cultura! Não recito versos do Vinícius, nem do Chico e tampouco do Tom. Não cantarolo a Miúcha e a Elis, não conheço um verso sequer do cartola e solfejo algumas notas do Adoniran Barbosa; detesto o Raul! Prefiro o estrago do rock pesado, o intimismo da psicodelia melancólica, os feitiços alucinógenos da literatura da Geração Beat e para contraste a extrema perfeição dos cânticos cristãos impressos nos Hinários para Culto Cristão (HCC) e Cantor Cristão (CC) – meu preferido, no caso.

Quem sabe, o amor não peça convencionalidade. Quem sabe, ele sequer seja sentimento como culturalmente o constrangemos a ter de ser. Quem sabe amor seja construção, resultado de ação e ponderação, saber ouvir e falar menos, o resultado da quietude, de sublimar a ansiedade e a raiva, de apaziguar o tesão e deixar uma pequena porta aberta para a paixão que vez outra faz reacender a chama que constantemente queremos apagar com as pressões e chatices natas de nós mesmos.

Quem sabe nuca tenha vivido mesmo o amor, diante disso tudo que disse…

E alguém por acaso sabe se nasceu ou não para esse tipo de situação? Alguém sabe o porquê de talvez existir tanto necessidade em compartilhar, doar, receber, ser reconhecido? Será que é tamanha a arrogância nossa de querer apenas isso e não estar se importando que da outra parte, ou seja, de quem queremos receber o mundo, também deseja um universo? Será que atraímos aquilo que somos?

Existe um romantismo, algum tipo de esperança, algo macio dentro do peito, alguma falta de rancor, sempre sorrisos bobos e desejos ternos; existe algo assim no peito nervoso de quem ainda tenta esperar... Esperar por alguma coisa, por algum constrangimento, por alguma forma de surpresa, de salvação em meio ao cotidiano, a mesmice, em meio a afasia decorrente de tantas aventuras mil as quais mesmo sem querer embarcamos.

Talvez eu esteja apenas tentando externar o que gostaria de ter, viver. Talvez não consiga ser tão mecânico como os ícones da música brasileira já citados. Eles escreveram e escreveram incansavelmente versos e mais versos como se fossem eles (os ícones musicais) oniscientes do que dizemos e pensamos ser amor. Talvez realmente exista troca, uma maneira de se colocar em cada letra, um jeito próprio de não fugir a regra daquele convencionalismo de sermos todos iguais. De algum modo o somos...

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