segunda-feira, 25 de abril de 2011

Joguete

- Ao som de Ana Cañas com “Escoderijo




Ok ok, não costumo escrever minhas teorias amorosas por aqui, mas quando invento de fazer isso tento caprichar ao máximo; assim espero. E são nessas investidas ou acontecimentos triviais do dia-a-dia que me surpreendo imensamente para poder escrever coisas do tipo.

Ganhei alguns bombons de chocolate no estágio. Sabe né, Páscoa, povo acredita que tem tudo a ver com chocolate (e não tem, nunca vai ter). Não retruquei, mas também não recusei o mini presente. Um desses bombons me chamou mais do que a atenção. Sabe aqueles da Garoto, o Serenata de Amor? Pois é, famosos por seus significados românticos e de segundas intenções, ultimamente eles estão bem do jeito que eu gosto. Digo, os recadinhos que vêm nas embalagens estão do jeito que eu gosto!

Nesse bombom que ganhei veio um recadinho mais ou menos assim:
“Ossinho da sorte, ‘bem me quer/mal me quer’ e quiromancia são algumas das bobagens que os casais procuram em momentos de crise. Pode ser ridículo, mas qual casal apaixonado não é?”

Haha, pois é hein... Isso me faz lembrar uma poesia do Pessoa onde ele diz que cartas de amor e demais coisa voltadas para o coração são demasiadamente ridículas. E ele disse mais, ridículo também é aquele que não se presta a ser/estar ridículo pelo afeto que for. O filósofo francês Deleuze disse (em uma entrevista publicada somente após sua morte; o cara não gostava de ser filmado, abrindo apenas essa exceção com esta única condição) coisa semelhante ao comparar sentimento e charme à demência.

Demência? Sim, demência! De acordo com o Aurélio demência é um substantivo feminino que implica em qualquer deterioração mental¹; afrenia, afrenesia, atimia²; loucura, doidice, parvoíce³. Em suma, um procedimento insensato! Deleuze queria deixar bem claro que quando estamos loucos, feito bichos irracionais é que assumimos a natureza descabida que é estar apaixonado. É quando somos irracionais, toscos, bestas, sonhadores e bobos por completo trocando os pés pelas mãos em estado de ansiedade quase taquicardíaca assumimos o papel charmoso em conquistas a parte.

Se eu sou bom nessas coisas? Modéstia parte, eu não sei dizer. Prefiro pensar que me comporto como preciso, já basta o fato de eu ser um sonhador por excelência, por extensão um trovador parnasiano. Eu sou um trouxa, bato, mas afago ao mesmo tempo. Sou turrão, mas sofro calado chorando por aí. Eu sou escorpiano, besta de nascença, aquele que faz tipo só pra atrair tua atenção e depois te desencantar por qualquer coisa que seja!

Na segunda parte do recadinho do bombom, dizia:
“Depois de uma separação, parece que tudo faz lembrar aquela pessoa: uma música na rádio, um perfume, um jeito de falar. Na verdade tudo é igual. Você é que faz questão de não esquecer essa paixão.”

Puxa vida! E num é que é verdade? Lembro-me das garotas em que perdi meu tempo me envolvendo (mas se você for uma dessas, e que por acaso está lendo esse texto, por favor, não se sinta inclusa... também não pus seu nome aqui ^^). Por algumas eu fiquei maluco, por outras eu perdi o sono. Por determinadas eu cheguei a chorar! Meu Deus que ridículo, nós somos ridículos, nós somos insuportavelmente bestas e entregues aos sensos comuns da necessidade do afeto, da troca de prazer, da identificação emocional.

Nada contra algumas dessas aqui ditas, mas só em completa razão, principalmente a quem (todos) se prestaram a agir e fazer isso vai saber do que eu tô falando. Não sou a favor da sequidão da alma, muito menos de fazer morrer as convenções de relacionamentos, eu tô apenas escrevendo sobre o que me é muito engraçado.

Veja bem, se você não se doar a alguém, outro o fará. Se você não se apaixonar, outro o fará. Se você deixar passar uma oportunidade, outro agradecerá o fato dessa chance ter-lhe aparecido. Levantará as mãos aos céus bendizendo a sua burrice e fará a dita(o) cuja(o) feliz!

O único sentido para sermos/tornarmos estranhamente irracionais devido a um acontecimento que envolve organismo e essência, feromônios e neurônios, prazer carnal e ágape, é que fomos feitos para isso! Fomos feitos para sentir vazios esperando um complemento. Fomos feitos para somar, para abstrair e admoestar. Fomos feitos para abrir exceções em besteiras à parte, para falarmos feito crianças e inventarmos apelidinhos medíocres. Fomos feitos para aproveitar toda tosquice a nós confiada.

Se quero alguém para ser isso tudo e mais um pouco, mas é claro que sim! E você também, não minta seu imbecil! O divertido de observar pessoas é justamente isso: atentar para o tanto que dependemos das “ridiculezas” e demências tanto próprias como alheias. Apaixone-se e deixe-se apaixonar. Cuide, zele, respeite, compartilhe, acolha, tolere para poder amar e se deixar amar. Seja o bicho que consideramos irracional para entender a pureza por trás de tanta coisa aparentemente sem nexo.

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