quinta-feira, 9 de junho de 2011

Hábitos, virtudes e vícios

Esse texto surgiu após a Escola Bíblica Dominical (EBD) lá na igreja que faço parte, por isso, se você não estiver a fim de ler conteúdo cristão não se dê o trabalho de prosseguir. Entretanto, se achar interessante e acredite ventura possa valer à pena depositar um pouco de tempo ao que foi escrito aqui, desejo as bênçãos e a compreensão que somente Deus pode oferecer, desde já.

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Estava buscando conceitos sobre Caráter, e encontrei três que me chamaram bastante a atenção:

1. É um termo usado na psicologia como sinônimo de personalidade. Na linguagem comum o termo descreve os traços morais da personalidade;
2. É o termo que designa o aspecto da personalidade responsável pela forma habitual e constante de agir peculiar a cada indivíduo; esta qualidade é inerente somente a uma pessoa, pois é o conjunto dos traços particulares, o modo de ser desta; sua índole, sua natureza e temperamento. O conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo lhe determinam a conduta e a concepção moral; seu gênio, humor, temperamento; este sendo resultado de progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais;
3. É a soma de nossos hábitos, virtudes e vícios.

Mas aí você vai se perguntar o que na verdade isso tem a ver com o que tentei esboçar? Tem que a meu ver o mundo externo, diante do que deixamos em secreto no nosso ser, é reflexo do caráter que carregamos. No ambiente cristão eu consegui identificar três representações desse caráter.

Para contextualizar gostaria de compartilhar a citação bíblica que está em Lucas 9:57-62, também encontrada em Mateus 8:18-22. Essa passagem narra o momento em que Cristo foi interpelado por três homens em três situações distintas, mas com suas nuances de semelhança. Todas os três estavam aparentemente dispostos a dedicar seu tempo e talento para o Reino apesar deles de maneira muito clara tentarem barganhar a Graça e o privilégio de servir a Deus.

O primeiro pode ser classificado como PRECIPITADO (versículos 57 e 58), o segundo OCUPADO (versículos 59 e 60) e o terceiro e ultimo o TRANQUILO (versículos 61 e 62).

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o PRECIPITADO

Posso classifica-lo como um cara afobado! Aproximou-se de Jesus e disse sem pestanejar que queria seguir o Messias, não considerou as implicações das suas palavras o no que elas resultariam. Resumindo, o rapaz seria mais um desses crentes pipoqueiros, que não racionalizam a fé e nem equilibram a razão com a emoção, na primeira dificuldade ele pularia fora do barco e se comportaria como muitos “ex-crentes” que vemos e ouvimos aos montes. Não acredito em ex-crentes. Ou você é crente ou você não é! Estamos vivendo tempos em que não dá pra ter duas vidas muito menos viver de dúvidas e emoções.

A resposta de Jesus foi curta e grossa, ele disse: “As raposas têm covis, as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Sinceramente, depois dessa resposta eu já teria mandado minha disposição para as cucúias. No entanto, observe o contexto para não ser precipitado como o personagem foi. Eu penso que se você deseja fazer algo, antes de qualquer coisa, precisa estar preparado e confiar na capacitação que Deus dá àqueles que estão dispostos a serem uteis a Ele.

Não estou desmerecendo a força de vontade dessa primeira pessoa, entretanto, é bom que consideremos tudo o que planejamos e nos ofereçamos como mão de obra. O precipitado não considerou Jesus como Cristo. Para ele, Jesus era um mero mestre e não o Senhor, o Messias encarnado e profetizado, o Filho do Deus Pai Altíssimo. Cristo sonda os nossos corações e sabe aquilo que nos é necessário ou não. Sabe quando nosso coração professa um desejo sincero ou outro movido apenas pela euforia do momento. Foi por essa razão que Ele deu aquela dura palavra ao precipitado.

Talvez se fossemos menos taxativos e mais compreensivos com certeza consideraríamos que Jesus deve ter dito no intimo daquele homem assim: “Eu reconheço sua força de vontade, mas aquiete o seu coração. Se achegue a Mim e aprenda de Mim o perfil e caráter de um verdadeiro discípulo que Eu almejo”.

Pessoas precipitadas são pessoas fracas e concluo que é por isso que muitas pseudoigrejas estão abarrotadas de pessoas entusiasmadas, envoltas por seu emocional aflorado sendo vitimas de daqueles que se utilizam das mazelas humanas para satisfazerem seus prazeres e ganancias. Agora, eu te faço um questionamento: Se no tempo de Cristo isso já acontecia, será que hoje isso aconteceria de forma diferente? Com certeza! Seria diferente independente do tempo e espaço se o ser humano tivesse os seus olhos, ouvidos, mente e coração voltados para Deus e a sua excelsa vontade!

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o OCUPADO

O segundo personagem tem caráter de quem está sempre Ocupado. Ele é um cara do qual eu me identifiquei um pouco. Sujeito cara-de-pau e igualmente ávido para ser útil a Deus. O interessante a respeito desse cara é que ele foi o único convocado pelo próprio Cristo. Jesus volta-se para ele e diz de maneira imperativa: “Segue-me”. Ele não foi um simples voluntário, um curioso para ser discípulo ou desfrutar do status de estar ali na companhia de Jesus. O Ocupado foi convocado pelo próprio Mestre e Senhor. Que privilégio!

Todavia, tudo tem um “porém” nessa vida. O Ocupado em resposta à ordem e convite, disse: “Senhor, deixa primeiro que o vá enterrar o meu pai”. Até aí tudo bem e não há nada de errado em zelar pela família e a integridade da mesma. O detalhe dessa passagem está no fato de que naquela época o filho homem, e ainda mais se fosse o primogênito, tinha responsabilidade sobre as finanças e a vida de seus familiares, logo, ele tinha que estar ali presente. Na sua possível ausência teria de incumbir outra pessoa para estar em seu nome sendo o líder dos demais.

O Ocupado não fez isso. Para ele estava tudo muito bom, mesmo reconhecendo que ali diante dele estava o Filho de Deus e que partira do próprio a ordenança de seguí-Lo, o Ocupado se condicionou ao fato de suas responsabilidades e esqueceu que essas mesmas responsabilidades foram dadas por Deus. Compreendemos que se é Deus quem dá então é Deus que também dá as condições para que todas as dificuldades e necessidades possam ser supridas. Tanto eu e você temos a mania de nos escondermos por trás dos afazeres, das responsabilidades, dos relacionamentos, dos momentos de êxtase na vida, de cargos, objetos de consumo, enfim.

Jesus, em resposta a ele, disse: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o Reino de Deus”. Misericórdia, só existe essa expressão, misericórdia. Negar uma ordem expressa por Deus condicionar-se ao comodismo, ser um fraco e pobre de espírito, e mesmo assim Jesus olhar com compaixão e ao mesmo tempo com dureza na palavra e dizer para ele ter desprendimento nos vínculos e anunciar o Reino são uma clara demonstração da confiança depositada por Deus em nós, e de que é Ele quem capacita e conhece os nossos dias.

Precisamos lembrar constantemente que o livre-arbítrio é o um dom dado por Deus e não pode ser tomado de volta. Ele quer de nós adoração com sinceridade e não por obrigação e intimidação. A alguns, por Ele reconhecer tamanho apreço e força, concede a autoridade em se apresentar perante Sua presença a fim desses receberem dele uma palavra de confiança e paz! Talvez essa seja a forma peculiar optada por Deus para com os seus a fim de que eles não se percam nem se extraviem pelo caminho. Aos seus servos Ele quer o melhor sempre, pois deles será cobrado o resultado de suas obras.

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o TRANQUILO

Por fim chegamos ao terceiro e último personagem dessa pequena história narrada no livro de Lucas. Nominado como Tranquilo ele merece nossa atenção especial, pois se trata da mescla dos dois perfis de caráter anteriores. Ele é prestativo, animado, empolgado, mas igualmente ocupado, atarefado e cheio de justificativas. Antes de tudo devemos entender as características dos dois personagens anteriores para compreendermos a dimensão desse último.

- Precipitado:
1. Que não reflete; inconsiderado, imprudente.
2. Apressado, açodado, arrebatado (no sentido de quem é dominado pela emoção, pelo entusiasmo).
3. Indivíduo que procede sem refletir, ou açodadamente.
- Ocupado:
1. Que se ocupa; que tem ocupação ou trabalho em via de fazer.
2. Absorvido ou preocupado com alguma tarefa.

Na passagem bíblica correspondente ao Tranquilo (versículos 61 e 62) diz que ele age da mesma maneira que o Precipitado. O Tranquilo pede permissão a Jesus para seguí-Lo e em seguida estabelece uma condição para isso: “Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa”. Mais uma vez não encontro nenhuma maldade nessa proposição. É natural quando alguém toma a decisão de dedicar-se a algo, sendo necessário largar tudo que o possui e conquistou, avisar os familiares e pessoas próximas sobre essa decisão. O problema na verdade está em impor e não propor!

Observemos ao fato que nos é mostrada a prioridade dada aos laços afetivos. Procuremos entender que não é necessariamente uma coisa ou uma pessoa, mas qualquer situação que tome o lugar de Deus em nossas vidas. O principal cuidado que precisamos ter nessa análise é fugir dos conceitos romantizados, coisas do tipo: “Deus é o centro da minha vida hoje e sempre”, “Me arrependi e busco todos os dias, ou pelo menos tento buscar, ser aquilo que ele tem pra mim em todos os aspectos da minha vida”.

O Tranquilo tinha apego ao que ele conquistara e se formos prestar mais atenção ainda, além dele refletir a imprudência em suas ações e a preocupação com tarefas e apegos emocionais adquiridos na vida, ele estava colocando suas vontades acima de Deus. Como? A partir do momento em que ele adequa Deus o seu tempo e momento ele inverte os valores e a hierarquia. Se somos servos não podemos agir como senhores, ainda mais quando se trata do Pai. Em resposta Jesus afirma: “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”.

O que me dá mais agonia nessa história toda é que nenhuma das observações feitas é novidade para os crentes que estão lendo o texto. Em João 8:11 encontramos uma palavra famosa de Cristo quando ele se dirige para a mulher adúltera. “Vá e não peques mais”. Mais uma vez Ele não está atribuindo uma condicional e tampouco dando um conselho, é uma ordem expressa para que não pequemos mais! É claro, você poderia dizer a respeito da natureza humana ser pecaminosa, que a carne é fraca mas o espírito é forte.

Também poderia dizer que determinadas coisas saíram do controle e por isso houve a queda. Porém eu te questiono: será que continuar a pensar assim também não é uma forma de ser precipitado, ocupado, preguiçoso, estar apático diante da vontade de Deus e o seu Reino?

É certo que Deus nos fez nova criatura Nele e para Ele, então eu me pergunto por que insistimos em sermos aquilo que não nos compete mais? Porque nos precipitamos perante o momento de euforia após o perdão, porque nos acovardamos quando a tentação sobrevém apesar da Bíblia afirmar não termos carga que possamos suportar? Talvez a nossa mesquinharia seja tão grande que todos os dias fazemos cair por terra a afirmação feita pelo apóstolo Paulo, encontrada em Gálatas 2:20:

Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.”

Meus amigos, eu não tenho mais o que falar. Não pretendo ser mais redundante e prolixo do que já fui! Em outras palavras, ou somos ou não somos de Cristo! Ou somos discípulos ou somos meros ouvintes acomodados. Ou estamos dispostos a enfrentar as críticas, as dificuldades, os aperreios dos momentos ruins, as crises nos relacionamentos, o dinheiro que faltou, o emprego perdido; Tudo o que temos e tudo o que somos é para Deus e não deve existir sombra de arrogância quanto a isso!

A Bíblia nos fala que a missão de pregar o evangelho foi dada a nós pelo privilégio de sermos a imagem e semelhança do Criador, a primazia de todas as criações! Usemos e abusemos da benção da liberdade em falar do amor de Deus por meio do seu Filho Jesus Cristo enquanto existe tempo. Policie-se para ser o referencial que você precisa ser e não se incomode com o seu passado. O passado não te condena o que condena é o pecado e ele já apagado do Livro da Vida mediante processo de conversão quando aceitastes Cristo como Senhor e Salvador. Portanto, honre esse presente. Honre o seu corpo e milite a militância da boa fé! Respeite para que você seja respeitado, tolere as diferenças para que o amor de Deus alcance aqueles que precisam. Esqueça o passado e viva aquilo que Deus tem permitido hoje!

Mostre-se apto a ser um discípulo, busque ser o que Deus reservou para você. Ouça a voz Dele e não turbe o seu coração para o que este século tem mentido e desanimado muitos.

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