sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um mundo de dois

Não é segredo que esse blog mudou. Continua introspectivo e subjetivo, no entanto, tenho buscado uma escrita nova, uma abordagem mais própria, um achismo mais centrado e menos tendencioso. Os paradoxos parecem que foram postos de lado, o “eu” se transformou em terceira pessoa, tímida, mas se transformou. Enxergo, dialogo comigo mesmo e autocritico inúmeras vezes, e mesmo assim ainda fico infeliz com o resultado.

Eu queria muito chegar a ter a segurança que um Daniel Galera tem. Sabe, o cara é jovem e mesmo assim consegue burlar as regras óbvias de uma literatura que teima em ser elitizada, destinada a públicos específicos e nunca atingíveis. Eu queria muito ter a leveza do Lenine, com uma considerável escrita curta, cheia de figuras de linguagem, com significados e significantes. Quem dera eu saber escrever.

Deram-me dia desses, aliás, noite dessas, um título e com ele a expressão como ponto final: “’Um mundo de dois’, te vira!”. Gosto de desafios. Gosto de pensar que é possível pegar uma coisa montada e desmontá-la criando outra totalmente diferente sem tropeçar no percurso de monte e desmonte. Sem deixar de seguir o manual, mas invertendo as peças. Como pegar uma bola, murchá-la e virá-la do avesso. Não deixará de ser uma bola, será a mesma bola, porém, uma bola ao avesso. Única. Própria. Exclusiva. Entenderam?

‘Um mundo de dois’, vem logo à mente dois corações ou aquelas composições ridículas da Los Hermanos, Marcelo Jeneci e companhia. Até hoje me pergunto como já pude simpatizar com coisa tipo a Los Hermanos! Não nego meu passado musical, entretanto, ele me causa certo incômodo. ‘Um mundo de dois’, dá ideia de cumplicidade. E se fosse de ódio? Como se fosse possível amar e odiar de maneira igual e idônea. Já cogitaram algo do tipo? Imaginem poder amar alguém somente se for possível odiá-la. Penso que na maioria das vezes falta ódio para compor o constante romantismo utópico que vivemos, cantamos e pregamos.

Mesmo a gente se amando tanto é prudente ter um pouco de ódio, pois o ódio faz equilibrar as estribeiras. Odeie-me por ser tão exigente e crítico, por não me esforçar para ser doce; Talvez isso explique eu preferir os sabores azedos e bem salgados para ser mais exato.

‘Um mundo de dois’; é tipo aqueles livros que a gente lê e diz “Mas que bosta” e larga sem nem mesmo chegar na metade. No entanto, tem aqueles que a gente pega no prefácio e se apaixona. Um mundo de dois é uma antítese, quem sabe uma paráfrase, um alter ego insistente para tomar posse do que não compete a realidade. Sabe aquela realidade teimosa? O Marçal Aquino no seu “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” explica.

“[…] ao se apaixonar, um ‘homem de sangue quente’ experimenta o desamparo de sentir-se vulnerável. Ele não caçou; foi caçado.” - Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios pg. 15.

Putz grila! Já ia cometendo a mesma gafe que a maioria dos blogueiros-poetas de esquina existentes por aí. Num se pode generalizar. Em blog, só se pode condicionar-se a abordar de duas maneiras: falar da vida ou administração alheia e suas respectivas configurações, ou falar da própria vida de maneira dolorosa, se não, extremamente otimista. Nessas horas faço minhas as palavras da minha ausente amiga, Nathalia Lima: “Num dá pra ser feliz o tempo todo, como também num dá pra sair choramingando por aí sem motivo ou com motivo. Eu prefiro pensar que posso ficar aqui na minha em cima do muro contemplando os bestas e suas inquietações.”. É... ^^

‘Um mundo de dois’, pode ser o amorzinho que eu teimo em guardar no secreto do meu peito, no medo que nego ter de me afeiçoar, nos inúmeros empecilhos colocados à minha frente. Tudo para que várias pessoas não fiquem por muito tempo, digo, aquelas que querem ficar por muito tempo, porque as que não quiseram, eu quis. O ser humano é meio escroto. Na verdade, meio não, é totalmente escroto. Cada um com suas bizarrices e tesões, costumo pensar que o meu ‘mundo’ que pode ser ‘de dois’ e não ‘a dois’ será um mérito para quem o conquistar.

‘Um mundo de dois’; exige da gente relutância. Ninguém quer nada muito fácil. Fácil mesmo só puta! Quando conquistamos com facilidade é natural que o lado mais escabreado possível entre em alerta! A facilidade é broxante, corta a adrenalina, te faz querer começar tudo de novo e fazer algo errado de propósito pra ver (só de teimosia) como seria se fosse feito de outro jeito tendo o certo em mente. Errar, nesse aspecto, é uma rebeldia pensada e optada. Ninguém se extravia do caminho que estava percorrendo sem saber em que solo resolveu pisar.

O engraçado é que queremos o tempo todo ser duplas mas até quando somos duplas somos individuais. Forçamos o outro a aceitar o individual e mesmo assim insistimos em compartilhar, doar, receber de graça sem querer dar algo em troca. A vida é uma série de trocas, respeito ao que é individual convergindo assim em ‘de dois’ e não ‘a dois’. Gosto de sentir que algo continuará sendo só meu, tão meu que dou a alguém sem problemas e relutâncias. Não existe dor quando é assim!

Fantasie um pouco, eu sinto falta de escrever coisa com coisa. Porém talvez seja isso que conta e importa: não ter um rumo se não o que o olho não permitir nitidez, o que a mão não alcançar, pelo que o coração esquentar, no que faz o rosto corar.

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