sábado, 28 de julho de 2012

Breves conclusões acerca da espiritualidade verdadeira

Eu moro em uma cidade onde, infelizmente, eventos teologicamente edificantes e encorajadores são difíceis de acontecer. Numa era em que o protestantismo contemporâneo está cada vez mais semelhante às lanchonetes fast-food, um congresso cujo tema foi “A Verdadeira Espiritualidade”, promovido pela Rádio Trans Mundial (RTM), veio a calhar no momento certo. E para a minha alegria e satisfação, eu consegui participar desse encontro que foi incrivelmente enriquecedor, tanto no aspecto espiritual como no de conhecimento de mundo e o que está ao meu derredor.

Os preletores convidados para o congresso foram o teólogo e Ph.D. em Novo Testamento, Russell Shedd; o hebraísta, teólogo, linguista, pastor, escritor e consultor editorial, Luiz Sayão; o pastor, missionário, compositor, escritor e articulista, Nelson Bomilcar; além do pastor e conferencista na área da Teologia (da Vida Cristã, Novo Testamento, Teologia Bíblica, Homilética e Pregação Expositiva), Itamir Neves.

Obs.: Eu escrevi esse texto com base em tudo que observei no primeiro dia do evento, com destaque para a preleção do pastor Itamir Neves, realizada na manhã e noite desta última sexta-feira (27). É claro que não consegui captar tudo, porém, do que foi absorvido, acredito ter exposto de maneira fiel e concisa.

Mas, voltando ao assunto com a palestra feita pelo pastor Itamar Neves com o tema A Espiritualidade nos Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, foram exibidas algumas diretrizes básicas da verdadeira espiritualidade, identificadas nas palavras de Jesus. Porém, antes de adentrar na discussão, Neves disse algo que me chamou muito a atenção e compartilho aqui com vocês:

Deus tem procurado servos que o adorem com espírito verdadeiro, principalmente se essa adoração for por meio do louvor. E quando olhamos para os evangelhos onde são descritos a história de Jesus, encontramos lá um perfeito manual de conduta e fé para o verdadeiro cristão. Contudo, como diz no livro do profeta Malaquias, capítulo 1, se não formos verdadeiros em nosso louvor, Deus não apenas rejeita o nosso culto/louvor, mas também a nossa presença diante Dele.

Itamir foi bem direto destacando expressões e palavras-chave da verdadeira espiritualidade, de acordo com cada evangelho sinótico:

•    Em Mateus: A espiritualidade do quarto fechado;
•    Em Marcos: A espiritualidade do serviço;
•    Em Lucas: A espiritualidade do Pai Amoroso;
•    Em João: A espiritualidade da videira.

Contudo, não se pode falar de espiritualidade sem nos voltarmos para aspetos como o Louvor, que ao contrário do que muitos pensam não se trata apenas de música, mas sim de vivência. Sobre isso, Jesus, o maior pedagogo e mestre de todos os tempos, foi bem enfático quando fez o seu maior e mais famoso discurso conhecido como “O Sermão do Monte”. Aos curiosos, abram a Bíblia no evangelho de Mateus, capítulos 5 a 7, leiam e meditem.

Faz-se mister saber que o capítulo 6 é a chave entre os três capítulos do evangelho de Mateus que foram propostos acima, quando o Cristo ensina a multidão como devem orar recitando a “Oração do Pai Nosso”. Naquele tempo, por opressão do Império Romano e do farisaísmo judaico, o povo de Israel desconhecia a sua própria identidade como nação criada e escolhida pelo Criador. Mergulhado em uma penúria de subordinação, o povo começou a respirar esperança e fé novamente com a pessoa de Jesus através do seu ministério terreno. Porém, ainda não O entendiam nem O viam como o Messias que viria para salvar suas almas, mas, como o messias político e “gladiador”.

A Oração do Pai Nosso é mais do que uma simples pedagogia eucarística, ela resgata na mente do ser humano o conceito de que Deus é Pai, de que Ele está próximo e é acessível a todo aquele que confessar ser pecador e necessitado da Graça divina. Todavia, para que isso fique mais claro, saliento alguns tópicos. Veja abaixo:

•    Jesus apresenta um contraste entre a espiritualidade dos religiosos da época, com a dos fariseus e aquela que Ele esperava de um verdadeiro servo de Deus;
•    O povo vivia uma justiça exterior, Jesus, porém, traz ao conhecimento de todos a justiça de Deus, aquela que é implantada no interior do homem para redimi-lo, não apenas para se transformar através de justiça humana, mas em uma vida de justiça espiritual (vide Mateus 5:17-20);
•    Outro ponto a se destacar e trazer para o nosso contexto cristão atual, é que a situação de vida a qual possuímos e observamos baseada em ritos e costumes, é reflexo de uma falsa religiosidade e espiritualidade. Nada é além de uma vida falsa, de falso louvor, de falso cristianismo e abnegação própria. Jesus aparece como a resposta para a essa vida de mentiras quando nos ensina o Pai Nosso e através dessa iniciativa converter a mente humana à condição de serviços do Senhor.

Por fim, Jesus quer que as nossas práticas sejam sinceras e não tenhamos segundas intenções. Como? Ele afirmou isso com clareza no evangelho de Mateus, capítulo 6 nos versículos 1 a 4, que diz:

"Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará.".

Logo, a verdadeira espiritualidade passa pelo “quarto fechado” que é o lugar onde Deus nos conhece como somos e nós O conhecemos como Ele verdadeiramente é. A oração verdadeira traz para a luz as nossas fraquezas e deficiências, devemos agradar primeiramente a Deus e assim, como consequência, traremos paz entre os irmãos. Quando aprendemos a orar sem que os homens nos vejam, somos recompensados por Aquele que nos vê!

Demais pontos que merecem a nossa atenção na Oração do Pai Nosso (versículos 9 a 13):

•    A adoração à pessoa de Deus;
•    O desejo pela presença de Deus;
•    O anseio pelo programa de Deus;
•    Deus é um Pai coletivo e não de propriedade privada;
•    A presença de Deus é santa, isso precisa ficar muito claro na mente do crente. Daí a reverência e respeito no momento de prestar louvores, oração e jejum;
•    Devemos colocar as nossas necessidades diante de Deus (versículos 11 a 13);
•    Pedimos pela provisão de Deus;
•    Pedimos pela pureza pessoal;
•    Pedimos pela proteção de Deus;

O Pai Nosso é um modelo de oração que, antes de tudo, não deve ser interpretado como uma reza, onde são feitas inúmeras repetições como se estas fossem alcançar a Deus de alguma maneira por tanto insistir. O Pai Nosso é um modelo de oração cristã para que a partir dela possamos traçar e fazer as nossas próprias orações sinceras, íntimas e contritas diante do Pai Celestial.

O apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, capítulo 12, afirma que somos o corpo de Cristo e por isso devemos andar em amor e diligência de espírito. Daí ser de extrema importância a paz entre os irmãos, a tolerância diante das diferenças e a admoestação, a fim de que o outro cresça em espírito e em verdade.

Outras três práticas religiosas nós podemos destacar a cerca da espiritualidade nos evangelhos sinóticos, são elas: Oração, Contribuição Financeira e Jejum.

Sobre Oração, Jesus ensina o jeito certo de se orar é entrando em intimidade com Deus. No trecho que está em Mateus capítulo 6, nos versículos de 1 a 15, Cristo orienta o povo a procurar um lugar de reclusão, distante dos olhos alheios. Ele usou como exemplo um quarto (ou dormitório se preferirem). O nosso quarto é sinônimo de refúgio, é o lugar onde somente pessoas selecionadas e próximas a nós podem ter acesso. Nesse lugar está contido os nossos utensílios mais íntimos e aquilo que somos quando ninguém mais nos vê. Pensando nessa transparência, Jesus atrelou esse conceito de “estar nu” diante de Deus para haver momentos de oração sinceros e contritos.

A segunda prática religiosa destacada pelo Mestre dos mestres foi a Contribuição Financeira. Entenda que, no contexto ao qual Jesus se referia não era o de sustento de alguma obra missionária, líder religioso da época ou igreja, mas sim dos pobres e necessitados. Entretanto, muitos têm se valido disso para não cooperar com dízimos e ofertas (coisa que por sinal foi criada por Deus para que haja mantimentos no serviço Dele. Livros como o Gêneses, Deuteronômio, Levítico, Números, dentre outros, mencionam o ato de dizimar com finalidades espirituais e de sustento para a obra de Deus), além de cometerem práticas corruptas e abusivas. Outros tomam a caridade como uma prerrogativa para a salvação, o que na realidade não acontece, pois a salvação só existe em Cristo Jesus mediante a confissão de pecados e profissão pública de fé.

A respeito do Jejum, Jesus orienta para aquele que jejua esteja sempre com boa aparência a fim de que não traga para si glórias. Ou seja, a verdadeira espiritualidade não deve ser feita para ser vista pelos homens. Nada contra orações públicas e demais práticas, mas aquela que é para a glorificação de Deus deve ser feita na intimidade. Mais um detalhe que vale ser mencionado é o fato de Jesus reprovar as repetições (Mateus 6:7). Deus quer espontaneidade, intimidade e não ladainhas e rezas. Por isso, intimidade com o Pai em oração é diálogo, conversa, um bate-papo franco sem “firulas”. Não obstante, embora já conheça as nossas necessidades, Ele quer nos ouvir, pois o Senhor tem prazer na oração e no diálogo direto entre nós e Ele.

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