domingo, 1 de julho de 2012

Firulas emocionais e supostamente racionais

Dia desses, eu estava lendo a Bíblia e me veio à memória pensamentos que pareceram clichê. Eu estava me questionando se a passagem contida em I Coríntios 13 se trata ou não do amor ágape, esse que muita gente declara para o (a) seu (sua) amado (a). Fiquei me questionando quanto ao fato de ou não o amor ser um sentimento ou um apanhado de comportamentos doutrinados e amadurecidos dentro dos mais diversos níveis de relacionamento. Fiquei também me perguntando se por algum momento eu realmente amei, isso é, com base no trecho, que compreende desde o versículo 4 até a parte a do versículo 8 da passagem bíblia em questão. Para começar a exposição do meu raciocínio, leia abaixo o extrato de I Coríntios 13:

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca perece;

Captou a essência da coisa? Pois bem, mas, antes de entrar no assunto, queria ressaltar que, a meu ver, esse amor ao qual o apóstolo Paulo (autor das cartas de I e II Coríntios) é um amor comportamental dirigido aos crentes da Igreja de Cristo. A prova maior está no capítulo anterior, onde são observados a excelência e o exercício dos dons dados por Deus para a edificação da congregação, e também essa mesma congregação sendo vista como um corpo, como um organismo que para estar saudável precisa estar com todas as suas funções em plenitude.

Porém, vamos imaginar que Paulo tivesse escrito a passagem de I Coríntios 13 para os apaixonados, ciumentos, noivos, possessivos, solteiros e até mesmo para os casados. Contudo, mesmo que ele tivesse escrito para esse público em específico, repare que em momento algum o tema proposto tratou de sentimentos, de pensamentos, de firulas emocionais ligadas ao coração, mas sim à mente e aquilo que ela produz e que por sua vez reflete no comportamento.

No trecho destacado por mim, Paulo enumerou tudo o que o amor produz e está de acordo, todavia acentua também o que ele detesta e não apoia. Recordemos então:

O amor apoia: a paciência, a bondade, a verdade, o domínio próprio e a mansidão. O amor não apoia: o egoísmo, o orgulho, o maltrato, a inveja e o rancor. Além dessas coisas, o amor, segundo Paulo, ainda tem outros atributos, tais como: sofrer na esperança de outrem alcançar o estado de graça almejado; crer na transformação da mente e do coração de alguém; exerce o dom da longanimidade em produzir firmeza e bom ânimo em meio ao tempo; é forte, pois suporta as injúrias e pedradas da vida; é perene, porque não se abala por qualquer coisa e mostra a fidelidade e uma continuidade em tudo que faz e deseja.

Agora pare por um momento e reflita por quantas vezes você já trabalhou ou exercitou algum desses atributos que a passagem bíblica descreve. Quantos relacionamentos que você já teve, mesmo em meio às crises ou até nos momentos de paranoia e ciumeira, quais foram as situações onde pelo menos dois destes pontos obtiveram êxito e foram observados por outrem. Questione-se se o seu atual status afetivo tem vivido e produzido frutos dignos de paciência, bondade, verdade, domínio próprio e mansidão. Confronte-se se por algum instante você foi egoísta, orgulhoso, invejoso, rancoroso.

Trabalhe mais um pouco a sua mente e tente lembrar se espontaneamente, ou não, você sofreu, creu, esperou, suportou e permaneceu firme no objetivo em respeito e esperança no outro. Agora pense comigo, e se Paulo não estivesse falando apenas dos atributos do amor, mas também de Deus? Consegue entender o tamanho da responsabilidade que é o ato de amar?

Daí eu me pergunto mais uma vez se de fato existe amor no ser humano ou se ele sabe o que é amor. Se ele ama ou se esforça para aprender, se já vivenciou, experimentou, exercitou, provocou, trabalhou em algo semelhante. Digo isso porque já confessei em outros textos, e até mesmo em situações da vida, ser ciumento e às vezes possessivo, além de desconfiado e mesquinho. Não sei quantos de nós têm coragem de assumir a real natureza e enfrentá-la, porque com toda sinceridade eu luto contra mim mesmo para viver, ser e colocar em prática pelo menos metade do que o amor significa de fato. Por vezes eu até acho que não sei nem nunca soube amar, mas atualmente certo alguém tem me provado o contrário, quiçá me ensinado como amar verdadeiramente.

Não quero dizer com nenhum desses argumentos que é proibido ter ciúme, etc. Não, não é isso, até porque existe beleza no ciúme. Sim, existe porque se nós temos alguém a quem zelamos, protegemos e possuímos sentimentos puros, é óbvio que vai haver ciúme caso apareça uma terceira pessoa e esta ameace a estabilidade do relacionamento. É natural, e lógico, que em um par não possa existir um trio. Agora, é claro que tudo tem limite, porém nada que um bom diálogo com bom senso e humor não possam resolver e apimentar ainda mais o relacionamento de um casal que se respeita e se gosta.

Talvez o que mais nos atrapalhe sejam o comodismo e a falsa sensação de romantismo enquanto que o lado racional fica esquecido. Sim, eu não creio que o amor seja sentimento, como disse lá no início do texto, pra mim ele é um apanhado de comportamentos doutrinados e amadurecidos dentro dos mais diversos níveis de relacionamento. E se esses comportamentos forem dentro de um status afetivo ágape, a batalha é ainda maior. Sem querer parecer fatalista, mas as instituições clássicas estão cada vez mais mortas. Primeiro foi o respeito às pessoas idosas, depois aos pais, depois ao sacramento que é a família (casamento) e por último o namoro (que é um nível de relacionamento pós-moderno, até pelo menos 100 anos atrás ele não exista).

Enfim, eram esses os questionamentos que sobrevieram na minha cabeça, com algum nexo ou não, como todo questionamento. Tentei ao máximo não me expor não dar vazão aos meus relacionamentos, principalmente ao meu namoro. Digo apenas que me esforço para merecer a pessoa que está ao meu lado, e tento mais ainda ver esse esforço e esse merecimento como um exercício diário. Até porque, fazer uma pessoa dizer “eu te amo” todos os dias com o coração convicto e emocionado, não é tarefa fácil.

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