sábado, 6 de outubro de 2012

Entre o perene e o frívolo

Ao som de Tu és fiel, Senhor (Hino nº25 do HCC)
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Ok! Parece que tudo o que vou dizer a seguir é óbvio, mas vamos tentar fugir dos nossos próprios convencionalismos e vaidades, daquilo que sabemos a respeito de alguma coisa, para enfim, trazermos também algum aprendizado palpável.

É engraçado que quando nos referimos a Deus, uns O enxergam como um ser bondoso e disposto a corroborar em nosso favor sempre, enquanto outros O veem como alguém pronto para punir todo aquele que cometer o primeiro vacilo, mandando-o para o fogo do inferno por sua desobediência. Eu já enxergo Deus apenas de duas maneiras: O Deus do SIM e o Deus do NÃO!

Por várias vezes, eu já provei das respostas tanto positivas como negativas advindas Dele às orações feitas por mim. É mais engraçado ainda porque nos condicionamos a vê-lO, mesmo que sem a intenção de ser assim, como um gênio da lâmpada mágica, e nós, meninos (as) mimados (as), esperando sempre o suprassumo do nosso desejo realizado.

Ultimamente eu tenho orado por algo que já fugiu das minhas forças. Eu não tenho mais capacidade de ir além do que consegui ir, sentir ou cogitar. E é justamente diante de tantas vezes com os joelhos dobrados em terra que escuto constantemente: “Ainda NÃO! ESPERE, procure crescer e saber mais de Mim”. Certa vez eu disse que a nossa natureza é rebelde, nós não reagimos bem ao negativismo, às palavras de ordem, a estar subjugado a alguma coisa ou alguém. A respeito disso, faço grifo de um trecho do livro Quando Deus Responde Não (3º ed. Rido de Janeiro: JUERP, 1995), de Almir dos Santos Gonçalves Júnior:

“[...] Em princípio somos sempre levados a crer que é através das respostas positivas do Senhor que iremos crescer em nossa espiritualidade. Sem dúvida, isto pode acontecer principalmente naquele grupo de pessoas especiais, que conseguindo abster-se das glórias desse mundo conseguem levar uma vida de tal dedicação e consagração, que o atendimento às suas necessidades básicas, a fartura de recursos, o bem-estar garantido não os desviam dos propósitos espirituais no viver.
Mas na maioria das pessoas não é assim que acontece: as facilidades advindas da providência de Deus afastam o homem da preocupação espiritual, tornando-o um indiferente as coisas do espírito. [...]
Agora, quando o crente tem uma oração não atendida e é crente mesmo, ele vai exercitar sua fé: O que está faltando? Em que tenho falhado? Onde preciso melhorar? São indagações que lhe virão à mente, no esforço de tornar-se digno da benção do Senhor. Não que a resposta de Deus seja um jogo de trocas, ou uma contrapartida a algo que fazemos ou deixamos de fazer, mas porque o crente verdadeiro vai procurar sempre pautar a sua vida pelo perfil de Cristo, principalmente quando ele sente que está em falta com o Senhor.”
(págs. 50-51)

Isso me fez lembrar também a famosa confissão davídica contida no Salmo 71: 14-23, que diz:

“Mas eu sempre terei esperança e te louvarei cada vez mais.
A minha boca falará sem cessar da tua justiça e dos teus incontáveis atos de salvação.
Falarei dos teus feitos poderosos, ó Soberano Senhor; proclamarei a tua justiça, unicamente a tua justiça.
Desde a minha juventude, ó Deus, tens me ensinado, e até hoje eu anuncio as tuas maravilhas.
Agora que estou velho, de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus, para que eu possa falar da tua força aos nossos filhos, e do teu poder às futuras gerações.
Tua justiça chega até as alturas, ó Deus, tu, que tens feito coisas grandiosas. Quem se compara a ti, ó Deus?
Tu, que me fizeste passar muitas e duras tribulações, restaurarás a minha vida, e das profundezas da terra de novo me farás subir.
Tu me farás mais honrado e mais uma vez me consolarás.
E eu te louvarei com a lira por tua fidelidade, ó meu Deus; cantarei louvores a ti com a harpa, ó Santo de Israel.
Os meus lábios gritarão de alegria quando eu cantar louvores a ti, pois tu me redimiste.”

O que mais tenho aprendido com os sucessivos “NÃO’s” de Deus é que enquanto Ele observa a história como um todo, nós apenas percebemos o vulto daquilo que nos está proposto dentro da nossa bolha material do tempo. Não conseguimos imaginar de maneira concreta o que virá no dia seguinte, mas guardamos expectativas quanto a esse porvir. É natural desejar o melhor para si, mas até que ponto isso se encaixa nos planos que já nos foram propostos e escritos? Eu sei também que existe um livre arbítrio o qual foi dado como dom, entretanto, como está documentada a Palavra do próprio Cristo em Marcos 8:36 e Lucas 9:25, do que nos adianta ganhar tudo e perder a própria vida?

É natural ter anseios e desejos, eu não sou uma marionete sem sentimentos e planos para com a vida. Eu quero poder ter uma família, um lar, uma vida mesmo que simples, mas aceitável e prazerosa. Deus permitiu que todos esses sentimentos habitassem em mim para o louvor Dele e também que eu O reconhecesse na minha fraqueza e limitação a continua necessidade de sua Graça e Misericórdia. Todos os dias eu acordo com o peito apertado por não ver o que tanto peço respondido de maneira positiva, mas nem por isso me desanimo, apesar de ainda ouvir Dele: “Ainda NÃO! ESPERE, procure crescer e saber mais de Mim”.

Sobre isso, faço minhas novamente um outro trecho retirado do livro Quando Deus Responde Não:

“Sim, a deficiência e a carência, quando presentes na vida de seres humanos de personalidade forte e agressiva, moldam atitudes de disciplina sobre o infortúnio, de desejo e autorrealização, de busca pela superação das dificuldades. Talvez não fosse a existência dessas situações contrárias muitas delas não teriam saído do seu anonimato de vidas comuns e simples, sem nenhuma projeção social.” (pág. 46)

Por fim, eu penso apenas que fomos chamados dentre os comuns para fazer a diferença. Que Deus me perdoe por ser tão intransigente e inconveniente para com as Suas vontades e planos. Contudo, eu ainda guardo para mim Misericórdia e Graça para aprender com essa situação embaraçosa, que me causa aflição, angustia e ao mesmo tempo uma esperança sem fim, de que ainda vou testemunhar um milagre considerado impossível aos olhos humanos.

Um comentário:

Evelin Isabely disse...

Do sofrer a constante esperança! Lindo texto, mensagem captada! ;)