Dos insistentes questionamentos à constante esperança

Eu não sei quantos de vocês já passaram por situações em que nenhuma resposta vem na mente, senão perguntas, questionamentos e muitas dúvidas. Se tem algo que eu tenho aprendido à duras penas é louvar ao Senhor mesmo em meio a essas adversidades, das mais diferentes possíveis. Não é fácil abrir a boca e render graças a um Deus invisível, porém presente, quando olhamos para o nosso redor e derredor, e, humanamente, não encontramos razões para agradecer, nos alegrar e animar na buscar por alcançar o galardão da vida que é a Graça imerecida de Deus.

Mas, o que vem a ser essa tal Graça? Comecei a me questionar a respeito dela quando estava fazendo meu estudo bíblico diário, dessa vez através da primeira carta do apóstolo Pedro. Nessa primeira parte da mensagem dele, foram concentradas mensagens de exortação e encorajamento aos crentes que não eram judeus, ou seja, os considerados (gentios). Insistentemente, Pedro fala sobre Graça e às suas várias formas (Segurança; Sobriedade; Submissão; Sofrimento; Serviço). Curioso, fui atrás para tentar entender um pouco sobre ao que apóstolo queria se referir com essa tal Graça e os contextos usados por ele.

De acordo com o Minidicionário Bíblico, produzido pela Difusão Cultural do Livro, Graça significa “[...] louvar no sentido de prestar alta reverência a uma divindade por tudo que lhe foi concedido (alimentação, proteção, a própria vida, etc.”.

A partir disso, fico me perguntando o porquê de muitas coisas. De acordo com o líder terreno da Igreja, eleito pelo próprio Cristo, a Graça advém da persistência em querer depender e viver de acordo com a vontade do Senhor. Apesar de ela ser dada gratuitamente a todos, somente aos que perseverarem na fé poderão desfrutar por inteiro do que ela tem a nos oferecer mediante a firme crença em Cristo Jesus.

“Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações; Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” - 1 Pedro 1:6-9

Isso significa que o conhecimento de nossa posição e herança seguras redunda em: regozijo, comprovação da realidade da nossa fé, amor crescente de Deus, certeza da conclusão da nossa salvação. (ênfase acrescentada retirada da Bíblia Anotada e expandida – Sociedade Bíblica do Brasil e Editora Mundo Cristão)

Outro ponto interessante sobre a Graça colocado por Pedro é que somos peregrinos nessa terra, logo, tudo isso que vivemos e passamos é de pouca valia, pois o nosso alvo é a vida eterna e a morada celestial com Deus no Céu. Por isso, o apóstolo ressalta o seguinte:

“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” - 1 Pedro 1:13-16

Precisamos ser disciplinados na nossa maneira de pensar, de maneira que não podemos nos conformar com as coisas do nosso presente século e aceita-las como “naturais” só porque elas aparentam ser. Se a nossa regra de fé e prática cristã é única e exclusivamente a Bíblia, então ela é o nosso guia no comportamento adequado a quem quer desfrutar da inteira Graça divina. O apóstolo frisa também o que Cristo salientou para aqueles que quiserem, de todo o coração, ter uma vida agradável diante do Senhor o de sermos santos como Ele é santo. Entenda que o sentido de “santo” não está aplicado ao fato de ser livre de qualquer pecado como erroneamente muitos compreendem. Santo implica em ser separado para o exclusivo louvor e glória de Deus, e se Ele é santo, e se somos feitura Dele a imagem e semelhança Dele, devemos honrar tamanha dádiva e buscar essa santidade todos os dias de nossas vidas.

Outro ponto delicado tratado por Pedro é a submissão, conceito este também erroneamente compreendido pela maioria. A submissão implica em obedecer a quem quer que seja o nosso superior, pois a este foi dada autoridade para liderar. Entretanto, a submissão maior está para com o próprio Deus e a maneira que temos de manter essa hierarquia santa é correspondendo a Ele em tudo. Se sofremos por causa dessa obediência, então somos os mais afortunados de todos porque obedecer não é fácil! Eu quero diga, porque todos os dias eu sinto no meu próprio corpo o preço dessa escolha justamente por ter como alvo algo que vai além dessa presente vida e das conquistas que ela pode me trazer.

Sobre isso, podemos encontrar sustento e apoio no seguinte extrato canônico, que diz:

“Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente; Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados.” - 1 Pedro 2:20-24

Essa passagem nos convida a participar do mesmo sofrimento de Cristo, pois foi por meio deste sofrer que hoje temos a liberdade da qual “desfrutamos”, de poder conhecer as verdades bíblicas e através delas entender o plano de salvação criado por Deus, que é o próprio Jesus. O nosso Messias antes de ser preso realizou uma ceia com os seus discípulos. Se Jesus era o próprio Deus encarnado, então ele tinha consciência do que viria após aquele ato de comunhão dele com os seus seguidores. Mas, o que me chama muito, mas muito mesmo a atenção é o que está escrito no versículo 30 do evangelho de Mateus, capítulo 26, que diz:

“E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras.”

Jesus ainda conseguiu cantar mesmo sabendo de tudo o que viria, de todo o escarnio, daqueles que o abandonariam, da morte sofrida, de carregar TODOS os pecados de TODA a humanidade. Ele poderia muito bem optar em não fazê-lo, já que era homem e como homem (criatura) tinha também o mesmo dom que possuímos, a saber o dom do Livre Arbítrio. Porém, por entender que não se tratava Dele, mas sim de mim e de você, dessa Graça que hoje desfrutamos e pouco valorizamos, Ele segue firme com a missão até o fim tendo como morte a pior de todas daquele tempo. Se o meu Salvador conseguiu cantar em meio a tribulação, a pior de todas que um ser humano pode cogitar em passar, então eu também posso, pois o espírito que habitou Nele é o mesmo que habita em mim e que concede Graça imerecida e infinita!

Por fim, o apóstolo Pedro nos salienta uma última característica dessa Graça, que é a do serviço. Partilhar da Graça de Deus é estar apto a servir, é entender que nada do que venhamos a ter e ser diz respeito a nós, mas ao outro e ao Reino. Mesmo que você não concorde com algum comportamento, mesmo que o trabalho seja árduo, mesmo que tenhamos de abrir mão das nossas paixões, planos e desejos, a Graça de poder servir ao Senhor faz compensar todo o esforço.

E é pensando nisso que Pedro escreve no capítulo 5 de sua primeira carta, uma mensagem exclusivamente e direcionada aos jovens (mas que pode ser também direcionada a outas faixas etárias). A mensagem diz o seguinte:

“Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor (Deus), alcançareis a incorruptível coroa da glória. Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. A ele seja a glória e o poderio para todo o sempre. Amém.” - 1 Pedro 5:1-11

Precisamos entender que o Cristianismo transformou a humildade em uma virtude capital, ou seja, trata-se de uma disposição mental que traz consigo a consciência de que ninguém possui motivo algum para se considerar especial aos olhos de Deus, justamente por sermos pecadores e necessitados da Graça. Por esse motivo, é que Ele (Deus), tem cuidado de nós apesar do que somos e fazemos. O Senhor, sabendo de tudo a nosso respeito, escolheu se importar com aquilo que vivemos por amor a nós, criaturas e feituras Suas. E para que isso seja de fato uma verdade, Pedro observa de que precisamos ser vigilantes, orar sem cessar e constantemente, sem se deixar levar pela situação ou pelo que há de vir, pois os sofrimentos que vivemos no agora são os mesmos que inúmeros outros ao redor do mundo também estão enfrentando e Deus cuida de todos sem excluir nenhum sequer.