sexta-feira, 26 de junho de 2015
Fé
Vejo Deus suprindo minhas necessidades quando me ouve, e ainda que fique em silêncio, só o fato de me ouvir já é, também, uma resposta para continuar persistindo e insistindo.
Ultimamente eu tenho lutado para permanecer firme e com fé. Tenho experimentado da Graça de formas antes impensadas, percebido que o Amor Dele é mais fora de lógica do que estamos religiosamente acostumados a ouvir, e catolicamente a repetir.
Enquanto peço condições para permanecer firme, noto que mais e mais sou provado justamente naquilo que mais peço: ter fé. Tenho de fato aprendido a viver dela até um dia só ela me bastar.
Isso, do ponto de vista humano, é frustrante e mais ainda por eu ser um jovem que tem a cabeça pipocando de possibilidades e frustrações por não conseguir alcançar essas possibilidades.
Porém a parte boa dessas "frustrações" é que elas amadurecem e desmistificam a tal da fé que só aumenta, ao mesmo tempo em que sou convidado a tê-la como o suficiente e necessário.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
A futilidade da idade
Acho que a gente fica menos suscetível às frivolidades, às coisas fúteis.
A gente acaba ficando mais criterioso, as conversas passam a ter necessidade de fundamento ainda que sejam fúteis.
Os relacionamentos se tornam mais objetivos, sejam eles apenas para sexo ou para coisas mais sérias.
Sei lá, parece que com o avançar da idade, a frescura é colocada de lado e tudo começa a ficar mais simples como deveria ser.
Pena que esses detalhes só vêm com a idade.
terça-feira, 2 de junho de 2015
Epitáfio
Depois que a gente perde algum ente muito querido, passamos a pensar na morte com mais frequência. Eu penso muito em coisas como futuro, estabilidade, projetos, família, amores... inevitavelmente refletir sobre a morte acaba se tornando uma coisa normal que surge nos pensamentos e devaneios.
Diante disso, quis escrever algo que há tempos já estava na minha cabeça, mas que só faltava um pontapé para sair do abstrato e se transformar em matéria. Eu dedico essa singela crônica à minha professora, amiga e conselheira, Marilce Pires, que agora aprecia ininterruptamente a presença de Deus.
Com amor.
[...]
Quando a gente pensa em texto fúnebre, vem logo à mente testamentos e demais epitáfios em lápides. Porém, quando eu penso em textos fúnebres, penso no que já pode estar na cabeça da gente e que automaticamente é censurado por parecer desnecessário, preenchido de melancolia e lamento. É, pode até ser, todavia ainda assim gosto desse tipo de texto, como também da sinceridade dos bebuns e irritadinhos.
Não me considero uma pessoa importante ou que fará falta. Desculpa pai, mãe e irmã, vocês não contam na lista. Mas realmente não acho que seja o tipo de pessoa que vai fazer surgir aquele tipo de conversa saudosista onde são feitos comentários sobre meus feitos, acertos e escândalos, pra depois todos rirem no final e dizerem "Porra puta cara legal que faz falta, né?!". Não, não faço esse tipo.
Eu sou um chato. Um ansioso. Faço uma besteira aqui e ali pra não perder o costume. Viciado nos meus próprios erros e cativo das coisas que já sou liberto. Eu sou inquieto. Eu sou platônico. Nunca termino uma coisa que começo e as que comecei, dei pra trás por motivos muitas das vezes desconhecidos.
Nunca fiz o tipo muito religioso. Talvez dogmático sofista demais, apesar de gostar de socializar bem a dúvida com a certeza, o racional com o emocional.
Vivo me sabotando. Espantei de mim excelentes mulheres, deixei empregos promissores. Fiz escolhas idiotas que só atenuaram minha condição de idiota e bobo.
Eu não sou um pessimista. Não, não sou. Sou apenas alguém refletindo sobre a morte e sobre as implicações da vida. Até por que a morte pra mim não existe. A morte é, senão, uma sono. Uma ausência temporária. Uma partida que pode vir com aviso prévio ou que surge do nada e causa comoção e divulgação de panfletos com cartazes de "Desaparecido!".
Eu escolhi uma profissão que causa em mim uma relação de amor e ódio. Se quiserem estabilidade e segurança, não sejam jornalista! A não ser façam opção pela putaria, por não ter muito amor por moral e ética, ou por aquela constante sensação de "tá faltando alguma coisa".
Aos 16 anos eu descobri que sou vocacionado para o ministério missionário. Aos 25 entrei num seminário, onde na verdade não sei se me acordou pra fé distante dos discursos e explicações vazias que a religião propõe, me fincando assim de uma vez por todas em Jesus Cristo e Sua imerecida graça salvífica; ou se foi um lugar onde terminou de matar o que de esperança e expectativa com a vida que eu já quase não tinha.
Eu tive somente algumas poucas namoradas (escrevo esse texto aos 27 anos e até agora só tive três namoradas), mas só uma despertou o meu amor sincero. Acredito até que a a vida nos presenteia constantemente por renovo e perspectivas. Acredito também que cada pessoa recebe e dá um tipo de amor único e incomparável diante do que já se tenha vivido. Esta em questão foi única, assim como a outra futura também será. Única com direito a outros nobres sentimentos e demonstrações também únicos. Entretanto, ainda assim, há três anos meu coração foi dela e de certo modo continua sendo.
Sou Batista desde que me entendo por gente. Reconheço que a igreja é, simultaneamente, o pior lugar pra se estar como também o melhor. O pior, pois tem o que de pior do mundo e do ser humano. Tem o que de pior de mim. E é o melhor lugar por, além de parecer um circo ou um hospício, é o lugar perfeito para pessoas fracas e ansiosas reconhecerem não ter controle nem poder sobre a vida. Controle e poder são platonismos. Não controlamos sequer os batimentos cardíacos, respiração, pensamentos, impulsos, que dirá a vida?!
Sou romântico. Daria flores todos os dias pra quem amo, nem que fossem aquelas de jardim ou despretensiosas dos canteiros de rua. Sou coruja. Estragaria um (a) filho (a) de tanta atenção e perguntas como "Mas por quê?". Daria uma tiro num cidadão que fizesse uma filha minha sofrer. Daria um soco num filho meu se ele fosse escroto com alguma mulher ou faltasse com a sua responsabilidade de homem com quem quer que fosse.
Aprendi que a única coisa necessária num ser humano é o seu caráter, todo o resto é consequência. E haja vista que caráter significa palavra. Aprendi isso com o meu pai. Meu pai é um cara preguiçoso, mas que não sabe viver sem trabalhar. Meio antagônico isso, eu sei. Minha mãe é um brinco, um bibelô, uma daquelas pessoas que você colocaria no colo ou levaria pra casa de tão fofa. Minha irmã é igualmente bruta tanto quanto doce. Rir com o corpo todo. Abestada demais. Mas eu a amo!
Tenho amigos fiéis. Escolhi muitos outros péssimos por muito tempo. Passei um tempo sozinho, muito sozinho. Parece que quanto mais idade a gente vai levando na cara, mais sozinho e mais difícil fica de encontrar confiança. Faz sentido então o que Jesus falou sobre "vinde a mim as criancinhas, pois delas é o Reino dos Céus". A criança tem mais a te ensinar do que um adulto prepotente e insolente em sua burrice, arrogância, intelectualidade, moralidade.
Não gosto de gente burra. De burro já basta eu.
Abraçar é bom. Tocar nas pessoas é bom. Gravar o timbre de voz e o cheiro também é ótimo. As manias e tiques mostram muito do comportamento interno de cada um. Aprende-se muito sobre um indivíduo observando suas expressões e tonalidades da voz. Aprende-se muito sobre relacionamentos ficando calado e dizendo mais "não sei" do que "eu já sei".
Eu não valho muita coisa. Sou um pecador dos bons. Egoísta e imediatista. Tenho uma mente péssima. Todavia tenho também um coração grande, uma esperança na vida que não me faz entender muito de muita coisa. Também tenho a incapacidade de desejar o mau ou de maltratar uma formiga, apesar do meu tamanho, rudez com os contatos físicos e natural jeito estabanado de andar. Às vezes penso como é possível Deus me amar e ter morrido na cruz por mim. Às vezes me pergunto o que Ele tinha na cabeça quando me fez acreditar que tenho alguma condição pra abrir Sua Bíblia e ensiná-la.
Anseio pelo Céu. Anseio pelo fim disso tudo, pelo dia em que meus olhos fecharão aqui para abrirem na Eternidade e então descansar de toda essa ansiedade e mesquinharia. Desapegar de vez da condição humana, do cinismo de pedir perdão sabendo que irei errar outras inúmeras vezes, de fazer orações que não serão respondidas e de ter o silêncio como resposta para outras.
Anseio pelas respostas ou de apenas sentar e contemplar o Perfeito e ser como Ele também perfeito. Sem dor. Sem medo. Sem receios. Sem nada, a não ser alegria.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Memórias
Grande é a incapacidade humana.
Ilusória essa condição de querer ter controle.
Mas o controle não existe.
O controle é uma ambição.
Estranho é quando tudo o que você pode fazer é dar e se dar uma nova chance.
domingo, 19 de abril de 2015
Solitude
Chuva boa
Tô de janela aberta
Alguns pingos caindo no meu pé
Molhando tudo aqui
Nem me importo
Tá tudo latente que só uma chuva pra aquietar
Ainda tá chovendo e eu queria que chovesse todos os dias
Pra ver se acalma todo o nervosismo
Pra ver se traz a paz que eu preciso
Pra desopilar das emoções causadas pelo ser humano
Pra ficar com o diria Álvaro de Campos (Fernando Pessoa): " Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!".
terça-feira, 14 de abril de 2015
Esse sentimento
Emoções são os feixes de luz que atravessam o trânsito.
Correm o tempo todo e quando se pensa que foram embora, aparecem outros e outros insistentemente.
Emoções são pensamentos involuntários que te trazem à tona as emoções mais escrotas.
Não há tanto controle nas emoções, pois engana-se aquele que pensa poder domar a rebeldia.
Rebeldia por rebeldia é a condição humana de ser decaída. Você não tem posse dela, você simplesmente a é.
Minhas emoções me tiram do sério.
Deito a cabeça no travesseiro, no sofá, em qualquer canto que dê para repousar as costas, em seguida elas me tiram a paz ou qualquer zona de prazer na solitude.
Emoções são o estado máximo de ansiedade, da inconstância do querer ser e ter. Da presente frustração de nada ter nem ser.
Emoções são resultado desse capitalismo individualista que pouco se importa com outro, senão o transforma em sua satisfação pessoal, seja ela qual for.
Emoções são puro egoísmo, das histórias que se cria para justificar a falência de quem se é.
terça-feira, 24 de março de 2015
O idiota
Somos idiotas procurando algum tipo de redenção que nos tire da condição de burros inveterados, confrontados com alguma luz cósmica de esperança interior.
Somos idiotas que trocam o coração pelo prazer efêmero. A razão pela emoção prostituta. A certeza pelo prazer da dúvida desnecessária.
Mas aí tem algo na esperança, que mesmo diante das nossas idiotices, que nos redime afirmando ser sempre possível recomeçar. É quase como um sentimento divino, pueril, doce. Como aquele afago que dá medo de sentir e viver, mas que ainda assim faz falta.
Como um idiota nato, e que farei idiotices até o inevitável fim da vida, eu peço, clamo e suplico por oportunidades de recomeço. Contudo, um recomeço completamente doce como afago, que de tanto medo eu ter, mais desejo e mais anseio.
sexta-feira, 20 de março de 2015
A reconstrução do eu
A questão não é se Deus me ama, mas se eu amo a Deus. Não quero apelar pro discurso religioso por que esse tipo de discurso é um pé no saco e não traduz a inquietação humana. Também não pretendo desassociar fé da razão ou desmerecer a construção religiosa que exista em mim, pois a meu ver (e eu não tenho como provar isso, senão especular), todo ser humano é religioso e lida com suas crises de maneira religiosa, seja para negar/afirmar a existência de um Deus absoluto ou apelar para espiritualismos necromantes, etc.
Contudo, como estava dizendo, a questão é se eu amo a Deus. A conclusão a que chego é que em boa parte da vida nós odiamos a Deus, ou melhor, criamos um deus que nos satisfaça enquanto o próprio Deus apenas assiste a tudo em Sua grande compaixão, amor e misericórdia. Somos livres, não é mesmo? Se existe um céu ou inferno, dos dois não merecemos o primeiro, mas com toda a certeza o segundo. E, se por acaso, vamos para o primeiro e não para o segundo não é por nenhum esforço humano ou de ações benevolentes próprias, mas de completa graça compartilhada a trapos imundos também conhecidos como “ser humano”.
Eu chego à conclusão de que não amo a Deus quando me dou conta do que os meus olhos apreciam, de como meus ouvidos dão atenção a determinados sons, ao que os meus membros naturalmente se inclinam a fazer mesmo contra a minha vontade. Eu percebo que não amo a Deus quando mesmo tentando ter uma vida “correta”, continuo fazendo o errado. Ah!, definitivamente eu não amo a Deus. Não preciso fazer novenas, nem longas preces e consagrações supra espiritualistas para chegar a este fim.
Agostinho, o bispo de Hipona, já dizia que o livre-arbítrio do ser humano consiste em fazer o que é de sua natural inclinação, uma inclinação deturpada e maluca (acréscimo meu). E, se este ser humano faz algo de bom não é por mérito, moral ou ética própria, mas por completa compaixão, amor e misericórdia de Deus. O teólogo Ariovaldo Ramos vai traduzir isso mais ou menos como se a eternidade Dele ainda morasse em nós de alguma maneira, e essa eternidade é o que ainda nos sustenta e impede a completa extinção humana.
Eu percebo que não amo a Deus quando por mais bens e conquistas que eu venha a ter, nunca estarei satisfeito. A arrogância de sempre querer mais, de subverter e controlar são como uma praga. Uma erva daninha que nem o veneno mais forte consegue matar. O escritor C. S. Lewis já dizia em seu livro “Cristianismo Puro e Simples” que temos de morrer antes de morrer. Compreendendo bem a minha insatisfação com o meu eu, com a minha condição deplorável e intragável, faz sentido afirmar que eu preciso morrer cada vez mais antes de chegar o meu fim pleno. O fim do corpo e da alma. Faz sentido me observar e ter a humildade de dizer “não sou bom nem nada do que tem em mim é bom, nem mesmo as minhas intenções são boas, pois elas sempre serão voltadas para o meu eu, independente de beneficiar o próximo ou não”.
Sim, eu luto para amar a Deus todos os dias. Luto contra mim mesmo e esta imprestável condição humana que diante da majestade de um Ser todo poderoso, me confronta e impulsiona a ser menos de mim e mais Dele. Não, isso não é a negação do eu apregoada pelos gnósticos do primeiro século, mas o reconhecimento do vírus que é o orgulho humano e de como ele é nocivo e pernicioso em toda a construção social, emocional e psicológica.
Sim, eu luto para amar a Deus todos os dias. Luto, pois percebo que do que depender de mim e das minhas próprias motivações, inclinações, desejos e condições, deturparei e destruirei tudo ao meu redor inclusive a mim mesmo.
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Draminha de quinta
Não tem a ver com alma inquieta
Nem com esperança pueril e espiritualista
Deus não se envolve com as escolhas do coração
Mas também não deixa de se importar
Apenas que e somente que não é de Sua alçada se envolver.
Sim, tem a ver com a carência de um homem só
Ou de um só homem
Influencia bastante a posição do "só"
Entretanto, "só" antes ou depois continua sendo "só"
Continua sendo um ponto de interrogação
Tolerável e intragável dependendo do dia
Continua sendo solidão amarga e incômoda.
É uma escolha, com certeza sim
No comércio dos corpos perfeitos e do sexo delivery
Comércio este que vez outra é passível de nos esbarrarmos
"O ser humano é nojento", ouvi certa vez e concordo
E por não ter nenhuma intervenção divina
Até por que a intervenção é claramente ignorada
A carência de um homem só
Ou de um só homem se torna covarde e mesquinha
Irrita não poder fazer algo que não seja viver um dia após o outro.
sábado, 29 de novembro de 2014
Sorria
Ao som de Barricade, da Interpol
Desnecessário é:
querer apostar
ter esperança
guardar mágoa
irradiar expectativa
acreditar que é possível viver algo novo.
Desnecessário é:
ser patético
ter coração grande
ter uma alma suave
ou ser partidário da tribulação
sofrer calado
falar aos quatro ventos
sorrir
chorar.
Desnecessário é:
ser um bosta
se confessar
abrir o peito e rasgar as vestes
se humilhar
colocar o coração à prova
querer se apaixonar.
Desnecessário é:
abusar dos próprios pensamentos
torturar-se por acreditar estar fazendo o certo
[...] ou pensar que fez o errado
existir certo ou errado
existir culpa
existir medo
existir receio
existir insegurança
a oscilação de humor
a alegria
a tristeza.
Desnecessário é tudo aquilo que apostamos com uma tola convicção pueril.
sábado, 22 de novembro de 2014
Despedida
Tenta-se tanto o contrário quando na verdade a arte e beleza estão no contrário.
Ouvir requer atenção.
Desvia-se a atenção com muita coisa, a maior parte não nos devolve a mesma.
Sentir é um presente.
Perde-se o tempo tentando ser frio e indiferente, tolice, ser sanguíneo é aceitar a condição humana da fragilidade e vulnerabilidade.
A franqueza é na verdade sinônimo de maturidade.
Entende-se como rudez, contudo é, senão, a sensibilidade de sentir e pensar como o outro, dando a este a sinceridade necessária que ajude ambos a crescer.
Credibilidade são respeito e admiração.
Nos tempos atuais não existe respeito, nem admiração, tampouco credibilidade... isso é, pelo menos até alguém sair ganhando algo.
A intensidade.
Mal do século!
O medo.
Desculpa esfarrapada.
A ansiedade.
Incapacidade de exercer o domínio próprio.
Um sorriso.
A primeira e última coisa que se espera ver pelas retinas nervosas, acelerando um coração quente que pulsa sangue.
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Ano novo
“La vida es más compleja de lo que parece” ♪♫
O quarto é em sua maioria das vezes o pior lugar para se combater o bom combate. Noite adentro ou entretido no silêncio da alma, do cosmos, do mundo, das coisas; é no quarto que a verdadeira natureza aflora.
Vai-se embora a paz, o sossego. Deus parece distante. É uma angústia sem fim, as orações parecem não passar no teto.
É aí que vejo Deus, o mesmo Deus que é Pai e também SENHOR justo e soberano, se mostrar pouco interessado nos “esperneios” de um filho que insiste em querer acreditar que pode ser mimado. Bendito filho pródigo.
No quarto o menor incômodo ganha proporções cataclísmicas, espinhos que mais parecem facas, dores de cabeça intragáveis e barulhos ensurdecedores que só ecoam em nossas mentes, enquanto que no mundo alheio os pássaros continuam cantando.
O quarto, também, é como estar diante de quem se ama. Cada pedaço não é oculto, nem passa por despercebido. Cada cicatriz é tocada, cada mancha roxa é afagada, cada suspirar desregulado é acalmado.
O quarto é intimidade e muitas das vezes para se permitir uma intimidade individualista e mesquinha, de sonhos tão constrangedores que talvez ninguém o possa penetrá-los. Quarto é lugar de solidão consigo e com Deus. Quarto também é local de imaturidade. Quarto é púlpito, cadeia, carteira escolar, folha de papel.
O quarto é inocência, pureza. Quarto também é fetiche, lugar de entrega, de nudez, de quebrantamento, de prostração. Sonhos realizados, de aconchego, de repouso, descanso, amor.
O quarto é também insônia, é minha raiva e minha injúria. Meu labor, meu esconderijo, meu prazer e meu lazer, é parque de diversões da minha solidão, do meu pranto, adubo para os meus questionamentos, meus divãs e doenças.
O quarto sou eu.
E o que espero para o próximo ano? Que eu tenha mais embates, mais incômodos, mais lutas, mais autoconhecimento. Não me importo com o dissabor, a gente vai se acostumando às vezes de que não dá pra ser feliz o tempo todo, nem triste demais também, pois tudo é uma grande perda de tempo.
Eu espero ser mais próximo de um quarto inquieto e desajustado, de portas esperando serem trocadas, de teias de aranha serem retiradas, de um chão a ser encerado, de banheiros limpos com espelhos tão limpos ao ponto de poder ver a alma.
Eu espero ter janelas largas para ter a sensação de queda e de refrigério. Eu espero mais amores, mais aconchego, mais intimidade, mais noites perdidas e um pouco de angústia pra não ter que me enganar com um mundo fantástico que não existe.
Eu espero ser mais eu, com toda a intensidade que me for permitida.
sábado, 19 de outubro de 2013
O que é o silêncio?
Pra começar, o que é o silêncio?
Dependendo da pessoa, o silêncio pode ser o Céu ou o Inferno. Pode ser bom ou ruim, tranquilidade ou inquietação, paz ou perturbação.
Para os que sabem viver só, o silêncio é consolo, quase um nirvana; já para os amantes de grandes emoções e sensações o silêncio é ensurdecedor!
O que é o silêncio? Ausência de som? Uma frequência tão baixa que o ouvido humano não consegue captar e por esse motivo nem recebe um significado digno, logo se convencionou ser chamado apenas de silêncio?
Silêncio talvez seja isso, o momento de mais trabalho e menos quietação. De mais indagação e menos contemplação. De mais ação e insatisfação frente ao único, e talvez verdadeiro motivo dele existir, de contentamento em nos deixar imóveis.
O silêncio é um convite da alma para a reavaliação.
O silêncio é a junção de todos os sons indecifráveis, que quando audíveis e ouvidos, perturbam, apaziguam, transgredem, ensinam, ponderam, libertam, cativam, fazem querer abrir os olhos como quem pergunta: “Por quê?”.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Sobre a vida
Ao som de “Gravity”, do John Mayer
em tempo algum teve num caminho tranquilo um verdadeiro amor
e o que é o verdadeiro amor?
é a primeira paixão ingênua?
inconsequente?
ou um amor louco, sem limites, agressivo?
talvez um amor maduro, profundo?
delicado?
será que o verdadeiro amor não pode ser tudo isso ao mesmo tempo?
Tem tempo que não escrevo sobre a vida. Não que eu não pense nela. Penso até demais. Desde o último ano, desde dúvidas às alegrias, insistências e desistências têm pairado por aqui. Essa vida é engraçada e mais cômico ainda sou eu tentando escrever sobre ela, como se a vida e experiências que tenho pudessem contar alguma coisa com algum ar de maturidade e experiência de fato.
Não é que eu não sinta falta do passado. Não sofri lavagem cerebral, não fiquei estéril ou insensível às coisas que essa curta vida tem me dado. Sinto falta do passado. Sinto falta de como a euforia tinha gosto, formas, olhares, sons. É estranha essa vida de ser só eu, ou, digo mais, estranha essa vida de mergulhar no nada e “apostar” na fé pra vê se cola.
Eu não sei muita coisa da vida, mas me dá uma nostalgia da porra com um tesão do caramba quando olho pra traz com o aperto dos olhos em tentar entender a penumbra do futuro diante da chatice do presente. Ultimamente tenho detestado os conselhos, os achismos, as certezas, as teses e as concretizações. Pra quê tanta suposição e certeza, minha gente? Vai tudo pra cova quando tu morrer, ô traste!
No final, ainda me pego acordando na madrugada pensando, pensando, pensando... só desejo a felicidade e a satisfação, componentes indispensáveis para a persistência e esperança. No mais vamos ali viver um pouquinho, pois já basta cada dia o seu próprio mal (Mateus 6:34b), não é mesmo?!
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
O todo
Ao som de “Wucan”, da Black Mountain
Tão distante, vai e volta a onda do pensamento. Tão distante que chego a me perder nessa imensidão de prolixidade com saudade. Vai e volta, quebra na pedra arrebenta na corredeira. Assim vão as emoções, os pensamentos, as sensações. As infantilidades, os sonhos, desejos e alucinações. O amor prega peças, a paixão aprisiona, o pecado mata. Misture isso tudo, junte todas as estripulias da vida, junte todo o estresse do convívio social, junte toda morte de tudo que também há em você, misture e viva nesse seu mar de ir e vir estóicos rumo à esterilidade tricotômica.